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“Cobertura vacinal é muito baixa em adultos”, alerta Alberto Chebabo

Presidente da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) alerta sobre a importância de adultos atualizarem as carteiras de vacinação

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1 de 1 Homem sentado em escritório - Metrópoles - Foto: Metrópoles

A vacinação é a principal maneira de proteger a população contra vírus e bactérias que podem levar a doenças graves. Embora a maioria dos imunizantes seja aplicada na infância, alguns devem ser tomados periodicamente para garantir a nossa proteção ao longo da vida. É o caso das vacinas de tétano, gripe e Covid-19.

Nos últimos anos o Brasil vem lutando para retomar as taxas de coberturas vacinais entre crianças – algumas aumentaram, outras ainda estão abaixo do ideal. A Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) alerta que também é necessário se preocupar com a cobertura vacinal entre adolescentes, adultos e idosos.

“Passamos por um período complicado, na pandemia, quando tivemos uma baixa da cobertura para todas as vacinas em todas as faixas etárias da população. A gente vem recuperando esses números, mas ainda precisamos trabalhar bastante para aumentar os indicadores entre a população adulta. Temos coberturas muito baixas em relação às vacinas de gripe e Covid-19, por exemplo”, afirma o presidente da SBI, Alberto Chebabo.

Em entrevista ao Metrópoles, o médico infectologista fala sobre a importância da vacinação em diferentes fases da vida e durante a gravidez. Também explica como avaliar se vale a pena pagar pelas vacinas disponíveis apenas na rede privada.

Metrópoles: A gente fala muito sobre a vacinação das crianças. Mas quais são as vacinas indicadas para adolescentes, adultos e idosos?

Alberto Chebabo: A vacinação vem mudando bastante. Temos cada vez mais vacinas indicadas para a população adulta, e a tendência é de que cheguem cada vez mais, pois esses são grupos que também acabam se fragilizando, principalmente os mais velhos.

Começando pelos idosos, população para a qual hoje temos uma maior disponibilidade de vacinas. Além dos imunizantes de rotina — como tétano, que deve ser atualizada a cada 10 anos —, temos as vacinas de gripe, recomendadas anualmente, e a de Covid-19, que deve ser aplicada a cada seis meses para a população acima de 60 anos.

Além disso, temos as vacinas para prevenção de pneumonia, tanto antiviral quanto antibacteriana, a pneumocócica. Agora a gente tem uma vacina nova, a de vírus sincicial respiratório (VSR), que está indicada para a população acima de 60 anos. E também a vacina de prevenção ao herpes-zóster.

Parte dessas vacinas nós temos no Sistema Único de Saúde (SUS) e algumas são mais recentes e estão apenas disponíveis nas clínicas de vacinação.

Metrópoles: Para essas vacinas que não estão no SUS, o que as pessoas devem levar em consideração na hora de avaliar se vão pagar ou não por elas?

Alberto Chebabo: A primeira questão é que todas essas vacinas têm indicação baseadas em dados de estudos que mostraram a eficácia e efetividade na prevenção de doenças importantes. Se a pessoa tem condição de pagar por uma vacina, ela deve ser tomada porque isso vai trazer benefícios.

As vacinas meningocócicas são importantes para os adolescentes. A própria vacinação para gripe também é importante para os adolescentes, mas não é considerada prioritária e, por isso, não está disponível na rede pública, mas não significa que não tem a indicação de fazer. Os adolescentes, os adultos jovens também se beneficiam da vacinação contra influenza.

Então, obviamente, ouvir seu médico é o mais importante, entender as indicações e conversar com médico, normalmente geriatra ou o clínico que o acompanha.

Se for uma pessoa que tenha doenças de base, como as respiratórias, cardíacas ou outras doenças, têm ainda mais indicação de se vacinar.

Metrópoles: A vacina de herpes-zóster não está disponível na rede pública. O senhor considera imprescindível tomar?

Alberto Chebabo: A herpes-zóster é uma doença que causa bastante comprometimento em termos de dor. A doença passa a ser mais comum a partir dos 50 anos, mas cada vez que a idade vai ampliando, a chance de ter zóster e neuralgia pós-herpética (a dor que se mantém mesmo depois de a doença desaparecer) é maior .

Então é uma vacina que a gente tem realmente uma recomendação forte de fazer para reduzir esse risco tanto da doença e, principalmente, da complicação, que a neuralgia pós-herpética.

Claro que nem todas as pessoas vão ter condição financeira de fazer uma vacina cara nas unidades privadas de saúde, mas a gente tem batalhado para que ela seja incorporada em algum momento no SUS e esse benefício seja estendido para toda a população.

Metrópoles: Qual é a importância da gestante se vacinar durante a gravidez?

Alberto Chebabo: A gestante tem duas indicações de vacinação. A primeira para se proteger, por exemplo nos casos da influenza e Covid, uma vez que essas doenças evoluem de forma mais grave na gestante do que na população geral. A gripe é mais grave na gestação do que em uma pessoa da mesma idade não-gestante porque a própria gravidez é um fator de risco para complicação da doença, assim como para a Covid.

Mas o fator mais importante é a proteção do bebê. A transferência de anticorpos maternos acontece através da placenta e depois da amamentação. Os anticorpos vão fazer com que a criança fique protegida contra algumas doenças. Então, a vacina do vírus sincicial respiratório (VSR), de tétano, coqueluche, gripe e Covid também têm essa capacidade de proteção.

Metrópoles: Como está a situação do Brasil com relação à cobertura vacinal de adultos?

Alberto Chebabo: Nós passamos por um período complicado, na pandemia, quando tivemos uma baixa da cobertura para todas as vacinas em todas as faixas etárias da população. A gente vem recuperando essas coberturas vacinais — mais recentemente no ano passado e esse ano —, mas a população adulta ainda é uma que precisamos trabalhar bastante sobre a importância da vacinação.

Ainda temos coberturas muito baixas em relação à vacina de gripe e Covid-19, por exemplo. Então precisamos conscientizar a população sobre a importância da imunização. Tanto na rede pública, onde as vacinas estão disponíveis gratuitamente e mesmo assim as pessoas não procuram, quanto na rede privada. É claro que nem toda a população consegue ser beneficiada, mas precisamos que pelo menos parte da população com condição para pagar uma vacina entenda a importância e busque a vacinação porque as cobertura estão muito abaixo do que a gente gostaria.

Metrópoles: Como uma pessoa não vacinada pode afetar a saúde coletiva?

Alberto Chebabo: A vacinação é uma estratégia de prevenção coletiva. Quando vacino a população contra uma determinada doença, reduzo a circulação daquele agente infeccioso. Então vamos pegar o sarampo como exemplo. Quando vacino de 90 a 95% da população, protejo também aqueles 5% que não podem se vacinar, assim como as crianças com menos de 1 ano. Há aquilo que a gente chama de proteção de rebanho.

Se as pessoas estão vacinadas, o vírus não tem como circular e chegar até as pessoas que não estão vacinadas por questões específicas. A gente viu isso na Covid-19. Quando conseguimos vacinar boa parte da população, a gente reduziu a gravidade e também a transmissão do vírus.

Metrópoles: Caso um adulto, um idoso que não tenha a carteira de vacinação de quando era criança, como ele pode saber se precisa tomar alguma vacina nova ou se não tomou alguma?

Alberto Chebabo: Existem algumas formas de trabalhar essa questão. Na primeira, ter a carteira de vacinação seria o ideal para a gente conhecer o histórico de vacinação dessa pessoa desde a infância.

A segunda é, obviamente, perguntar aos pais. Muitas vezes, eles sabem quais vacinas foram feitas. Mas boa parte da população perde essa informação — ou porque os pais não lembram ou porque perderam a carteira de vacinação da infância. E aí, a recomendação é buscar atendimento médico, e fazer um aconselhamento para se vacinar.

Não existe risco em revacinar uma pessoa. O risco está em não vacinar. Então é melhor fazer uma vacina novamente, em uma uma pessoa que já fez vacina previamente, mas não sabe se fez ou não, do que deixar de vacinar.

Metrópoles: Algumas vacinas, como o senhor falou, devem ser refeitas ao longo da vida, certo?

Alberto Chebabo: Sim. Algumas vacinas devem ser refeitas ao longo da vida. Por exemplo, a vacina da gripe, todo ano; as de difteria e tétano devem ser feitas de 10 em 10 anos pela vida inteira, senão a gente fica desprotegido. Além de outras vacinas que estão chegando e vão ter que ser feitas pela primeira vez ou de forma recorrente. Algumas vacinas precisam ter dose de reforço, como a da Covid.

Metrópoles: No caso da dengue, para quem o senhor recomenda essa vacina?

Alberto Chebabo: A vacina da dengue que temos disponível no Brasil, a Qdenga, é recomendada para pessoas de 4 anos de idade até 60 anos. Na rede pública, ela está restrita a população de adolescentes de 10 a 14 anos e, na rede privada, está disponível para a população de até 60 anos.

Acima de 60 anos, a gente não tem liberação em bula para a realização dessa vacina. Ou seja, no registro da vacinação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) no Brasil não há recomendação de vacinar as pessoas com mais de 60 anos porque não existem estudos finalizados que mostram a segurança e, principalmente, a eficácia dessa vacina para a faixa etária.

Porém, na população entre 60 e 70 anos, o  médico que acompanha a pessoa pode avaliar se ela pode ou não ser vacinada, pesando os riscos e os benefícios ao paciente. No Brasil, há uma alta circulação do vírus da dengue e essa faixa da população tem um risco alto de internação, de hospitalização e de morte. O médico pode avaliar se a pessoa pode ou não ser vacinada. Abaixo de 60 anos, a vacina está liberada, com exceção dos imunossuprimidos.

Metrópoles: A mpox voltou a ser motivo de preocupação mundial. O Brasil notificou pouco mais de mil casos só esse ano, entre confirmados, prováveis e suspeitos. Nenhum deles é o clado 1b, relacionado ao atual surto.

A vacinação contra a mpox no Brasil aconteceu em 2023, com 49 mil doses distribuídas para grupos vulneráveis e contatos de casos confirmados, com o Ministério da Saúde confirmou para a gente. Agora, o ministério está tentando comprar novas doses. Para quem a vacina deveria ser destinada nesse novo surto?

Alberto Chebabo: Existe uma baixa disponibilidade de vacinas no mundo inteiro e esse é um problema. Só existe um produtor, que tem pouca capacidade de produção, então a gente tem que restringir e direcionar a vacina para os grupos de maior risco.

Nesse momento, a gente sabe que os grupos de maior risco são aqueles que têm um risco maior de aquisição e de complicação, que são os pacientes vivendo com HIV, principalmente homens que fazem sexo com homens e aqueles que têm uma imunidade baixa — pacientes que ainda não conseguiram atingir uma imunidade adequada com o tratamento ou não estão em tratamento para HIV.

Então essa população LGBTQIA+, onde a circulação do vírus é maior, mais frequente, e aquelas pessoas vivendo com HIV seriam os grupos prioritários para a gente vacinar, caso tenhamos a disponibilidade dessas vacinas aqui no Brasil.

Metrópoles: E até que essas vacinas cheguem ao Brasil, como que a população deve se proteger?

Alberto Chebabo: A mpox é uma doença que tem transmissão principalmente por contato. Aquela pessoa que tem lesões de pele compatíveis com a mpox — que pode não ser por que ela é muito semelhante à catapora e ao herpes-zóster, por exemplo — deve buscar atendimento médico, fazer o diagnóstico, descobrir a causa da lesão. Se for diagnosticado mpox, essa pessoa deve se isolar porque a transmissão acontece principalmente pelo contato.

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