Como será organizada a fila para a vacina contra coronavírus no Brasil?
Idosos e profissionais de saúde serão os primeiros a serem vacinados. A ordem dos outros grupos prioritários ainda será debatida
atualizado
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A empresa farmacêutica AstraZeneca, que desenvolve, junto com a Universidade Oxford, uma das vacinas em teste no Brasil, declarou no início desta semana que a população brasileira começará a receber a imunização contra a Covid-19 ainda em 2020. A pergunta seguinte passou a ser: como será organizada a fila de imunização para um país com cerca de 210 milhões de habitantes?
Em qualquer estratégia de vacinação, os grupos mais vulneráveis têm prioridade – ou seja, no caso da Covid-19, os idosos e as pessoas com doenças crônicas – cardiopatas e diabéticos, por exemplo – estariam na frente, acompanhados dos profissionais de saúde, por conta do risco de contágio que vivenciam todos os dias.
No entanto, definir a ordem da vacinação contra o coronavírus depende de pelo menos três fatores: a eficácia da vacina ou das vacinas que serão adotadas no Brasil, a quantidade de doses que o país terá acesso e a capacidade de produção dos laboratórios nacionais.
O pediatra Renato Kfouri, diretor da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), lembra que os estudos de grande escala sobre as imunizações mais promissoras – entre elas a de Oxford – ainda estão começando. É possível que o método funcione apenas para parte de um grupo populacional, por exemplo. “A gente não sabe se vacina funcionará, para que idade ela será licenciada e em qual quantidade a teremos, então é absolutamente impraticável fazer qualquer ilação a respeito da fila”, explica Kfouri.
A quantidade de doses a que o Brasil terá acesso definirá o número de pessoas priorizadas nas primeiras etapas do programa de vacinação. Quanto mais indivíduos dentro de um grupo prioritário, menor será a quantidade de grupos incluídos. “Quando você tem muitas doses da vacina, você dá para a população inteira. Quando não, dá para os mais vulneráveis: os profissionais da saúde, os idosos e as pessoas com doenças crônicas, que estão morrendo mais com a forma grave da doença”, detalha Kfouri.
O primeiro passo para estabelecer a fila será saber qual a quantidade total ofertada pelos laboratórios, seja com produção nacional ou importação. “É possível que a gente tenha duas ou três vacinas saindo concomitantemente ou uma depois da outra”, acredita o infectologista Alberto Chebabo, do Laboratório Exame.
Jovens e pessoas que estão fora dos grupos vulneráveis, certamente, serão os últimos a terem acesso à imunização. Também é provável que as gestantes e os pacientes oncológicos em tratamento fiquem fora da primeira leva de vacinados, já que tecnologias novas de imunização não costumam ser aplicadas nestes grupos pela possibilidade de efeitos adversos. “Se a vacina não for testada em termos de segurança em gestantes, elas não poderão ser vacinadas até que se tenha um estudo de segurança”, comenta Chebabo.
No último sábado (27/06), o secretário de vigilância em saúde, Arnaldo Correa de Medeiros, afirmou que o acordo com a Universidade de Oxford alcança 100 milhões de vacinas – 30 milhões com insumos importados e 70 milhões já com insumos fabricados em território brasileiro. De acordo com ele, esta quantidade seria o suficiente para imunizar todos os idosos, as pessoas com comorbidade, os profissionais de saúde, os professores, os indígenas, os detentos, os adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, os profissionais de segurança pública e resgate e os motoristas de transporte público.
A ordem desta imensa fila, entretanto, certamente, será motivo de intensos debates. Chebabo lembra que populações com risco maior de adoecimento, como indígenas, devem ser priorizados. O mesmo acontece com os detentos. “Eles estão encarcerados sob os cuidados do Estado, então, como na vacina de influenza, também são grupos que prioritariamente são escolhidos para a imunização”, explica.