Aglomerando sem máscara? Saiba o que é a dissonância cognitiva
Conceito da psicologia social ajuda a explicar comportamentos que não condizem com o lado racional das pessoas
atualizado
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Desde o começo da pandemia de coronavírus, em março de 2020, órgãos e entidades de saúde de todo o mundo têm alertado à população sobre a importância das medidas de prevenção. Uso de máscaras, higienização frequente das mãos e distanciamento social são algumas das recomendações da Organização Mundial da Saúde (OMS), repetidas pelos médicos à exaustão.
Você já deve ter ouvido frases como “A saúde mental também é importante”, “Confio que meus amigos estão tomando as medidas de precaução”, “Uma vez só não é problema” ou “Todo mundo vai pegar”, citadas como justificativa para comportamentos que contrariam as orientações de saúde e até os próprios valores dos emissores.
Ainda que as informações científicas sobre a Covid-19 estejam disponíveis, existem pessoas que tomam decisões em desacordo com as orientações sanitárias. “A dissonância cognitiva representa um conflito entre algo que a gente quer, nosso discurso e nossa ação”, explica Carlos Augusto de Medeiros, psicoterapeuta e professor do Centro Universitário de Brasília (Uniceub).
Segundo Carlos Augusto, esse mecanismo psicológico é recorrente. Isso porque é bastante desafiador para os humanos manter um comportamento coerente o tempo todo. “Agimos assim para fornecer, a nós mesmos e aos outros, argumentos que justifiquem condutas em desacordo com o que sabemos ser o certo, é uma maneira de evitarmos a culpa”, afirma.
A pandemia representa um contexto muito propício para comportamentos dissonantes, diz o especialista. “Muitas vezes as pessoas não terão o autocontrole necessário para respeitar as medidas de cuidados sanitários, apesar de saberem da importância.”
A médica psiquiatra e presidente da Associação Psiquiátrica de Brasília, Renata Figueiredo, avalia que, para muitas pessoas, existe um desconforto psíquico que faz com que elas se apeguem a fatos que corroborem suas atitudes. “A pessoa pode pensar, nesse caso específico de aglomerar, que nem todo mundo que se junta fica doente e, assim, usa esse artifício para justificar o próprio comportamento.”
A profissional explica que há uma dificuldade inerente a mudanças de hábitos, ainda que eles sejam para a proteção do indivíduo. “É a mesma questão do uso do cinto de segurança, que precisou de lei e campanhas para se tornar um hábito adquirido.”