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“A variante Delta da Covid tem comportamento diferente no Brasil”, diz pesquisador

José Eduardo Levi, coordenador de pesquisa da Dasa, sugere hipóteses para explicar por que a cepa não cumpriu previsões catastróficas

atualizado

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1 de 1 variante delta sao paulo - Coronavirus - Foto: Fábio Vieira/Metrópoles

Apesar do avanço da vacinação, diversos países estão vivendo uma nova onda da Covid-19 causada pela variante Delta, identificada pela primeira vez na Índia. O Brasil, entretanto, ficou de fora da lista. Por aqui, a mutação do coronavírus chegou, instalou-se e vem se tornando cada vez mais comum; esta cepa, porém, não causou uma alta acentuada de casos.

“O Brasil vive um momento epidemiológico peculiar”, explica José Eduardo Levi, coordenador do projeto de vigilância genômica da Dasa, a maior rede particular de laboratórios do país.

“Aqui, houve uma competição inicial entre as variantes Alfa e Gama, um fenômeno completamente brasileiro. Em outros países, a Alfa seguiu o que foi projetado, mas no Brasil ela cresceu e parou. Depois vimos que a Gama entrou no lugar dela e deslocou completamente a Alfa, como não aconteceu em nenhum outro lugar no mundo”, conta o especialista.

Levi afirma que, desde o primeiro momento, não acreditou que a Delta se apresentaria no país com a mesma força que exibiu no resto do mundo. Embora a variante já esteja dominando em São Paulo e no Rio de Janeiro, por enquanto, não é preciso se preocupar com uma terceira onda, segundo o pesquisador.

Isso porque, de acordo com os números absolutos analisados, observa-se a diminuição dos casos de contaminação pela Delta. “Os números frios não mostram uma terceira onda de Delta. Estamos descolados do que acontece em Israel, nos Estados Unidos e no Reino Unido”, pontua.

O pesquisador ressalta que a situação brasileira é diferente – não pela biologia molecular das variantes, mas porque o fluxo de viajantes dentro do Brasil é muito maior do que o internacional. Isso permitiu que o transporte da Gama fosse maior do que o da Alfa.

A Delta também tem um comportamento diferente aqui. A hipótese que acho mais provável é a de que tivemos uma segunda onda intensa com a Gama em abril e, agora, muita gente com anticorpos está se defendendo bem contra a variante Delta. Outra possibilidade, que é uma teoria minha, é que a Coronavac seja mais eficiente contra a Delta do que as outras vacinas”, pondera.

O especialista lembra que, quando a Delta chegou, houve previsões catastróficas que, até agora, não se confirmaram. “A prova vai ser o feriado de 7 de Setembro e os 15 dias seguintes. Se até o final do mês não observarmos uma subida importante dos casos, significa que passamos pela Delta, e aí vai vir a próxima”, aponta.

Vigilância genômica

O projeto que o pesquisador lidera faz o sequenciamento genético de cerca de 1,5 mil amostras de pacientes com Covid-19 por mês, coletadas em todas as regiões brasileiras e nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. As análises de cada parte do país são proporcionais à incidência da doença nos locais.

As amostras, recolhidas em laboratórios da Dasa, são transportadas para São Paulo, onde é feito o processamento e a extração do RNA. Em seguida, elas são introduzidas em um equipamento de sequenciamento. O aparelho leva dois dias para concluir uma primeira análise, que determina quais são as variantes encontradas.

O resultado é publicado em um banco de dados abertos. Um relatório final é produzido pelo Instituto de Medicina Tropical, da Universidade de São Paulo (USP), que faz uma avaliação mais detalhada sobre a disseminação das variantes.

“Em seguida, informamos o resultado às secretarias de saúde e à vigilância estadual. Ainda não está claro o que precisa ser notificado, mas, se eles precisarem de mais informações sobre os pacientes, podemos passar”, destaca Levi.

O sequenciamento de amostras do coronavírus é importante para acompanhar as variantes em circulação e as cepas que estão entrando no país. Esse trabalho, no entanto, deveria ser complementado pelo de vigilância epidemiológica – que consiste em isolar os casos confirmados e seus contatos, para evitar a disseminação de mutações. No momento, entretanto, isso não vem sendo feito no Brasil, nem em outros lugares do mundo.

“Temos uma variante bombando no Peru, outra crescendo na Colômbia. São países que fazem fronteira com o Brasil e onde há muita circulação de pessoas. A gente está em expansão da Delta e da Gama Plus, é fundamental que a gente continue monitorando e verificando se há outras mutações”, explica o pesquisador.

Levi menciona que o foco principal da vigilância genômica, daqui para a frente, será identificar mutações capazes de escapar da imunidade criada pelas vacinas. Serão analisadas amostras de pessoas que já tomaram vacina e tiveram casos graves, por exemplo. Por enquanto, são poucos os pacientes que se encaixam neste critério.

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Com o passar dos meses, o coronavírus sofreu mutações para continuar infectando as pessoas

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Surgiram inúmeras variantes do vírus, mas a OMS considera quatro como sendo de "preocupação"

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Ainda não se sabe se as mutações tornam o vírus mais eficiente em fugir da proteção oferecida pelas vacinas

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Ela é mais transmissível do que o vírus original, e foi responsável por uma alta nos casos em vários países

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Cerca de 73% dos pacientes que tiveram Covid-19 apresentam sintomas nos meses seguintes à infecção, segundo a Universidade de Stanford, nos Estados Unidos

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A variante Gama é a brasileira, conhecida anteriormente como P.1

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Ela também é mais transmissível, mas não é responsável por quadros mais graves da infecção

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Países têm aumentado restrições para conter avanço da nova cepa

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São pelo menos 50 mutações, entre as quais 32 ficam localizadas na proteína Spike, usada pelo coronavírus para invadir as células

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As vacinas disponíveis até o momento funcionam contra a maioria das variantes, ainda que não tenham 100% de eficácia contra elas

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