Confira 6 avanços da medicina que nos deram esperança em 2024
Este ano, cientistas fizeram avanços na prevenção do câncer, HIV e Alzheimer e inovaram no transplante de órgãos de animais a humanos
atualizado
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A medicina tem avançado rapidamente nos últimos anos e em 2024 não foi diferente. As escolhas de revistas especializadas em saúde sobre os avanços mais relevantes do ano indicam que as novidades mais notáveis não são no tratamento, mas sim na prevenção de doenças.
Nos últimos 12 meses, testes para detectar o Alzheimer se tornaram mais eficazes e acessíveis; pessoas que tiveram câncer receberam vacinas que diminuem suas chances de voltar a ter tumores; e uma vacina combinada para prevenção de Covid e gripe está mais perto que nunca. Confira quais são os avanços da medicina em 2024 mais comemorados pela comunidade médica.
1 – Vacina combinada contra Covid e gripe
Em junho, a Moderna anunciou avanços em uma vacina combinada chamada mRNA-1083, que promete proteção simultânea contra a gripe e a Covid-19.
Os ensaios clínicos de fase três mostraram resultados positivos, com resposta imunológica superior à das vacinas aplicadas separadamente e níveis semelhantes de segurança e tolerabilidade aos imunizantes já comercializados. A empresa planeja solicitar aprovação regulatória nos Estados Unidos e prevê o lançamento da vacina em 2025, segundo o CEO Stéphane Bancel.
A tecnologia usada é a do RNA mensageiro, a mesma do imunizante da Pfizer contra a Covid-19, mas de forma atualizada. A técnica “ensina” o corpo a produzir anticorpos específicos contra o influenza e o coronavírus. Esta será a primeira vez que uma vacina da gripe será fabricada com a tecnologia.
Além das vacinas, também houve avanços nos métodos de diagnóstico para as duas doenças que, embora causadas por vírus diferentes, têm sintomas semelhantes. Em outubro, o FDA aprovou um teste rápido de venda livre capaz de identificar tanto a Covid-19 quanto a gripe.
2 – Exame de sangue para detectar o Alzheimer
Cientistas na Suécia desenvolveram em 2020 um exame de sangue que pode identificar a doença de Alzheimer. Neste ano, porém, o PrecivityAD2 se tornou ainda mais eficaz e foi distribuído globalmente, podendo ser encontrado no Brasil em laboratórios privados.
O exame permite a identificação das chances de adultos acima dos 60 anos desenvolverem Alzheimer com cerca de 90% de precisão. Antes do teste, o diagnóstico era feito apenas com amostras de fluido cerebrospinal ou imagens cerebrais feitas com uma tomografia por emissão de pósitrons (PET) — exames restritos e caros.
O novo teste mede a proporção de vários biomarcadores-chave da doença de Alzheimer no sangue, as chamadas proteínas amilóides. Quanto maior sua presença, maior o risco da doença.
3 – Injeção semestral de prevenção contra o HIV
A descoberta científica de 2024 escolhida pela revista Science foi o lenacapavir, uma injeção semestral para a prevenção de infecções do HIV que funciona com uma eficácia até superior à da PrEP (profilaxia pré-exposição).
O lenacapavir, no entanto, ainda não é uma vacina contra o vírus. A injeção é um remédio de longa duração que impede a multiplicação do vírus caso a pessoa entre em contato com ele, mas não dá ao corpo ferramentas para se defender do HIV.
No entanto, em testes divulgados em novembro, pessoas que receberam o remédio duas vezes por ano tiveram um risco 50 vezes menor de desenvolver a aids ao serem comparados com o público geral. A expectativa é que o uso do lenacapavir como preventivo seja aprovado ainda em 2025.
A injeção é o primeiro remédio que combate o HIV a partir da inibição da função do capsídio. Em vez de atacar diretamente o vírus, como fazem os antirretrovirais tradicionais, a injeção inibe a função do capsídio, uma espécie de película fundamental para que ele se reproduza.
4 – Mulheres com doenças autoimunes
Em 2024, a medicina alcançou uma melhor compreensão do porquê as mulheres são mais propensas a desenvolver doenças autoimunes, como lúpus e artrite reumatoide.
Essas doenças afetam predominantemente as pessoas do sexo feminino, que representam mais de 78% dos casos. As causas exatas dessa coincidência eram desconhecidas, mas um novo estudo parece ter descoberto uma explicação. O levantamento, divulgado em janeiro, aponta que o desligamento de duas funções do cromossomo X aumentam muito o risco de desenvolvimento de condições autoumunes.
As mulheres têm dois cromossomos X, enquanto os homens possuem apenas um. Nelas, o segundo cromossomo normalmente é silenciado.
A pesquisa sugere que uma proteína responsável por esse silenciamento pode estar relacionada ao desenvolvimento de doenças autoimunes. Embora esses novos achados ajudem a explicar as diferenças de gênero, especialistas alertam que mais estudos são necessários para entender completamente suas implicações.
5 – Vacinas contra o câncer de pulmão e intestino
Neste ano, ocorreram avanços significativos no desenvolvimento de vacinas contra o câncer de pulmão e de intestino. Os imunizantes são pensados para diminuir os riscos de uma pessoa que já teve a doença voltar a desenvolvê-la, já que é personalizado e criado a partir das células retiradas de um tumor do próprio indivíduo.
No caso da vacina contra o câncer de pulmão, o estudo clínico começou em agosto, com a primeira aplicação em humanos. O cientista inglês Janusz Racz, de 67 anos, recebeu a vacina experimental BNT116, desenvolvida pela BioNTech.
Utilizando tecnologia de RNA mensageiro (mRNA), o imunizante visa treinar o sistema imunológico para identificar e destruir células cancerígenas específicas do câncer de pulmão de células não pequenas (NSCLC). O estudo pretende avaliar a segurança e eficácia da fórmula em aproximadamente 130 pacientes de sete países.
Em maio, o professor inglês Elliot Phebve, de 55 anos, foi o primeiro a receber o imunizante contra o câncer de intestino. A vacina, também produzida pelo BioNTech, deverá ser testada em 10 mil pacientes até 2030.
6 – Transplantes de órgãos de animais para humanos
Em 2024, os xenotransplantes — transplantes de órgãos entre espécies diferentes — registraram avanços significativos, especialmente no uso de órgãos de porcos geneticamente modificados.
Em maio, Richard Slayman, de 62 anos, tornou-se a primeira pessoa viva a receber um rim de porco geneticamente modificado. O procedimento foi feito nos Estados Unidos e liderado por um médico brasileiro.
Embora tenha falecido dois meses após a cirurgia, especialistas consideraram o procedimento um avanço promissor na área. Semanas depois, médicos em Nova York fizeram um transplante duplo de um rim de porco e de uma bomba cardíaca em uma mulher para aumentar sua sobrevida. Ela faleceu 50 dias depois.
No final de novembro, a norte-americana Towana Looney recebeu um rim de porco geneticamente modificado e, por enquanto, o órgão tem funcionado perfeitamente. Com insuficiência renal, a mulher já deixou de fazer diálise, mas ainda segue sob observação da equipe médica.
Em uma frente mais experimental, médicos na China transplantaram um fígado de porco para uma pessoa clinicamente morta. O órgão continuou funcionando e produzindo bile durante todo o período do estudo, que durou 10 dias.
No entanto, ainda existem muitos desafios antes de transplantes entre espécies se tornarem comuns. Há um maior risco de rejeição, já que são órgãos de espécies diferentes, além de questões éticas quanto à criação de animais específicos para a doação de órgãos.
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