4ª onda: por que o coronavírus ainda não foi controlado?
Mutações deram vantagem ao vírus, o que voltou a impulsionar o crescimento de diagnósticos diários
atualizado
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Depois de uma fase na qual a pandemia da Covid-19 parecia estar sendo controlada, o Brasil voltou a registrar um aumento significativo no número de infecções pelo coronavírus. A média móvel dos últimos 7 dias foi de 53.492 novos diagnósticos.
No atual momento, que alguns especialistas vêm chamando de 4ª onda, a vacinação têm conseguido evitar colapsos no sistema de saúde e reduzir a letalidade da doença. No entanto, a circulação do vírus está alta, ameaçando os grupos mais vulneráveis.
Esta realidade não é restrita ao Brasil. O México, por exemplo, registrou na quinta-feira (23/6), o maior número de casos em um único dia desde fevereiro. Aqui como lá, a maioria das infecções é provocada pelas sublinhagens BA.4 e BA.5 da variante Ômicron.
Após dois anos de pandemia, com vacinas disponíveis e conhecimento sobre como se dá a transmissão da Covid-19, por que o coronavírus ainda não foi controlado?
Escape na imunidade
O pesquisador Julio Croda, da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), explica que a Ômicron apresenta um potencial maior de escape da resposta imunológica, o que deixou a esperada imunidade de rebanho mais distante.
“O vírus se mostrou eficiente em conseguir desenvolver um escape para a resposta imune desenvolvida pelas vacinas ou pelas infecções anteriores. Esse é um dos motivos para o crescimento de casos. Vamos ter que nos adaptar a essa realidade. Esse vírus vai permanecer circulando, assim como ocorre com o da influenza”, afirma o pesquisador.
Desigualdade na vacinação
Há uma clara desigualdade na oferta de vacinas ao redor do mundo. Um estudo feito por pesquisadores do Imperial College London mostrou que a vacinação entre dezembro de 2020 e dezembro de 2021 evitou 19,8 milhões de mortes.
No entanto, as taxas de imunização são maiores em países de alta e média renda, que detêm maior poder econômico para a compra de doses. Enquanto isso, países de baixa renda seguem com coberturas vacinais reduzidas, dando margem para que o vírus circule com mais intensidade e sofra mutações.
Eficácia dos imunizantes
Os imunizantes desenvolvidos para proteger a população foram criados a partir da proteína spike, usada pelo vírus para invadir as células do corpo humano e se multiplicar. Porém, exatamente esta proteína abriga a maioria das mutações que permitem ao coronavírus se esquivar do sistema imunológico e seguir infectando as pessoas.
A expectativa da comunidade científica é que tenhamos vacinas mais compatíveis com a variente Ômicron em breve. O protocolo atual tem sido suficiente para evitar quadros graves e óbitos, mas ainda não há vacinas capazes de garantir proteção total contra a infecção.
“Vimos que a Ômicron não poupou vacinados, mas a imunização evitou desfechos graves. Ainda assim, precisamos desenvolver outras vacinas. A forma leve da doença sobrecarrega o serviço de saúde, pode causar Covid longa e aumenta as chances de transmissão para pessoas vulneráveis”, explicou o médico Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), em entrevista ao Metrópoles.
O infectologista Julio Croda concorda: “Temos vacinas extremamente boas, mas esse vírus lembra o influenza, para o qual também temos vacinas boas, mas precisamos repetir a dose anualmente”, afirma Julio Croda.
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