4ª onda: adianta continuar com reforço da mesma vacina contra Covid?
Vacinas atuais foram desenvolvidas com base no vírus original e, atualmente, as variantes possuem diversas mutações na proteína spike
atualizado
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Desde o início da pandemia de Covid-19, o coronavírus se espalhou pelo mundo inteiro. Para continuar circulando, o vírus adaptou-se.
Os imunizantes desenvolvidos para proteger a população foram criados a partir da proteína spike, usada pelo vírus para invadir as células do corpo humano e se multiplicar. Porém, exatamente esta proteína abriga a maioria das mutações que permitem ao coronavírus se esquivar do sistema imunológico e seguir infectando o hospedeiro – no caso, os humanos.
Para combater o influenza, um vírus endêmico e que sofre rápidas mutações, uma nova fórmula de vacina é desenvolvida todos os anos, e as pessoas dos grupos de risco são imunizadas periodicamente para prevenir o desenvolvimento de quadros graves. Será que precisaríamos adotar esse mesmo procedimento para a Covid-19?
Segundo o infectologista Renato Kfouri, da Sociedade Brasileira de Imunizações (SBIm), o esquema de proteção para a Covid-19 passou a ser de três doses, com um reforço para idosos e outro para pacientes com grau severo de imunossupressão. A terceira dose não é considerada mais um reforço, e, sim, parte do esquema vacinal obrigatório.
Até o momento, o protocolo tem sido suficiente para evitar quadros graves e óbitos, inclusive em pacientes infectados pelas variantes da Ômicron, uma cepa já bastante distante do coronavírus original, que deu início à pandemia.
“Agora, para prevenir doença leve e evitar a transmissão, nenhuma dessas vacinas que aplicamos atualmente é boa. Vimos que a Ômicron não poupou vacinados, mas a imunização evitou desfechos graves. Ainda assim, precisamos desenvolver outras vacinas. A forma leve da doença sobrecarrega o serviço de saúde, pode causar Covid longa e aumenta as chances de transmissão para pessoas vulneráveis”, explica o médico.
O imunologista David Martinez – que integrou equipes responsáveis pela criação das vacinas da Moderna e Janssen contra o coronavírus, além das terapias de anticorpos monoclonais da AstraZeneca e Eli Lilly – acredita que, eventualmente, precisaremos lidar com a doença exatamente como fazemos com a gripe.
“Embora as particularidades dos vírus influenza e Sars-CoV-2 sejam diferentes, o campo que investiga a Covid-19 deve pensar em adotar, a longo prazo, sistema de vigilância semelhante. Ficar atualizado sobre quais cepas estão circulando ajudará os pesquisadores a atualizar a vacina para corresponder às variantes predominantes do coronavírus”, escreveu, em artigo publicado na plataforma de divulgação científica The Conversation.
O médico avalia que novas variantes do vírus provavelmente vão aparecer nos próximos meses. O problema é saber, com antecedência, qual será a predominante, com o intuito de criar uma vacina adaptada, de acordo com a nova cepa. Ele defende que seja desenvolvida uma fórmula a partir da Ômicron, já que as novas variantes com melhor capacidade de se transmitir são sublinhagens da cepa.
“Um reforço atualizado que se assemelhe mais às subvariantes Ômicron de hoje, juntamente com a imunidade que as pessoas já têm desde as primeiras vacinas, provavelmente oferecerá melhor proteção no futuro. Isso pode exigir reforços menos frequentes – pelo menos enquanto as sublinhagens continuarem a dominar”, pontuou o especialista.
Novas vacinas
A Moderna, fabricante de um imunizante contra a Covid-19 aprovado nos Estados Unidos, divulgou, na última semana, resultados positivos dos testes clínicos de sua vacina feita a partir da Ômicron. Os pesquisadores descobriram que a dose de reforço com a nova fórmula induz a formação de oito vezes mais anticorpos do que a vacina atual. A expectativa da empresa é que o imunizante esteja disponível para aplicação em setembro.
Em janeiro, a Pfizer/BioNTech anunciou que estava criando uma fórmula a partir da Ômicron. A expectativa era que a vacina começaria a ser aplicada em março, mas o processo de coleta de dados foi mais lento do que o esperado e, por isso, a entrega foi adiada.
Em comunicado enviado ao Metrópoles, a Pfizer afirma que foi adotada uma abordagem mais abrangente para a vacina de nova geração, e estão sendo avaliadas questões relacionadas a segurança, tolerabilidade e imunogenicidade de uma dose alta da nova fórmula e uma do imunizante atual, e de uma combinação multivalente (que une a vacina atual à nova fórmula) em uma única dose.
“Em relação à chegada ao Brasil, dependerá dos resultados dos estudos e, posteriormente, das análises regulatórias”, sinaliza a nota.
Outra opção em desenvolvimento é a criação de uma fórmula universal, que funcione para todos os coronavírus e suas variantes. “A ciência já criou múltiplas vacinas seguras e eficazes, que reduzem o risco de Covid-19 grave. Reformular a estratégia de reforço, seja por uma fórmula universal ou atualizada, pode nos ajudar a finalmente sair da pandemia”, escreve Martinez.
O futuro? Ninguém sabe
Embora a pandemia ainda esteja vigente e boa parte da comunidade científica permaneça estudando o coronavírus, o cenário futuro e a necessidade de novas doses e reforços ainda não está claro. “Não sabemos nem se vai ser necessário tomar mais vacinas, quanto tempo a proteção vai durar, nem de quanto em quanto tempo precisaremos reforço. Não sabemos e não temos qualquer evidência que aponte nesse sentido”, afirma Kfouri.
O infectologista lembra que não se sabe como o vírus vai evoluir: pode ser que a pandemia acabe, e só os grupos prioritários sejam vacinados, por exemplo. O contrário também é possível – com o surgimento de mais uma variante que consiga fugir da imunidade criada pelas vacinas, a população mundial precisaria ser vacinada com outro reforço.
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