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1,7 milhão precisa de remédios de cannabis no Brasil, diz empresa

Fabricante de medicamentos que usam o canabidiol como princípio ativo considera o país como maior mercado potencial da América Latina

atualizado

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goias derruba veto de projeto de lei que dispõe sobre o uso de cannabis medical
1 de 1 goias derruba veto de projeto de lei que dispõe sobre o uso de cannabis medical - Foto: Reprodução

São Paulo A empresa canadense Spectrum Therapeutics – divisão internacional da Canopy Growth Corporation, líder mundial na fabricação de medicamentos à base de cannabis –, chega ao Brasil estimando um mercado consumidor de 1,7 milhão de pessoas para seus produtos. O país é considerado como o maior mercado potencial da América Latina, apesar de a legislação ainda estar atrasada em relação aos vizinhos. A primeira missão da Spectrum aqui será disseminar conhecimento sobre o assunto entre profissionais de saúde.

O investimento inicial no país será de R$ 60 milhões. Além capacitar médicos a respeito dos remédios fabricados a partir do canabidiol (CBD), a empresa pretende se conectar às associações de pacientes e estimular estudos científicos. “Nosso objetivo também é o desenvolvimento científico. Estamos iniciando um estudo em fase 2 no Chile e vamos começar algumas pesquisas grandes por aqui. Temos já contato com alguns pesquisadores que procuraram a empresa e há uma verba disponível para estudos sobre a aplicação medicinal da cannabis”, explica Wellington Briques, médico e diretor de Medical Affairs (“negócios médicos”, em tradução livre) da América Latina e Caribe da Canopy Growth.

Canabidiol
Dois princípios ativos são extraídos das flores da planta da maconha, o THC e o CBD. O canabidiol é a parte mais usada para tratar problemas como dor crônica, náuseas e vômitos em pacientes que passam por quimioterapia, espasticidade por esclerose múltipla e convulsões (inclusive em crianças com epilepsia). Outras possíveis aplicações, que ainda carecem de comprovações científicas, são para pacientes com insônia, com pressão ocular por causa de glaucoma, com sintomas de demência, doença de Parkinson, estresse pós-traumático, para gerenciamento de apetite, ansiedade e depressão, entre outros fins.

O diretor médico da Canopy Growth, o inglês Mark Ware, trabalha há 20 anos com as aplicações da cannabis e participou como assessor do governo canadense para desenvolver uma política específica para a planta. “Há um longo caminho a ser percorrido. Deveríamos estar pensando na cannabis medicinal como pensamos em medicamentos, com segurança e eficácia. Até hoje é um assunto controverso, mas há evidências sobre os usos terapêuticos aparecendo todos os dias. O corpo humano também tem seus próprios canabinoides, que são diferentes dos que a planta possui, mas atuam no mesmo sistema em receptores que regulam dor, apetite, humor, movimento e um grande número de funções fisiológicas”, explica.

Apesar de usada há milênios para tratar diversas doenças – há relatos do uso na China em 2737 a.C. –, a maconha foi proibida no começo do século 20 e, por isso, a pesquisa sobre seus efeitos medicinais ficou estacionada até o começo dos anos 1980.

O preconceito com o uso da planta segue atrasando o desenvolvimento de medicamentos. Associada ao uso recreativo, qualquer remédio que tem como matéria-prima a maconha é taxado pela sociedade como alucinógeno. Na verdade, o CBD não possui efeitos psicotrópicos por ser um óleo extraído da folha. Os efeitos alucinógenos estão relacionados, em grande parte, ao THC e ao uso por combustão da planta. O medicamento é um óleo processável pelo fígado como qualquer outro remédio.

Linha de produção
No Brasil, os pacientes que precisam de CBD devem fazer um cadastro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) que demora cerca de 45 dias para ser aprovado, e só então podem importar, individualmente, medicamentos feitos no exterior. A maior parte dos produtos vem dos Estados Unidos, onde o óleo de CBD é considerado um suplemento alimentar e, por isso, o transporte é menos burocrático (apesar de caro).

O produto da Spectrum vem do Canadá, onde é categorizado como medicamento. Por isso, além da burocracia brasileira, ainda há a canadense, tornando alto o custo do remédio, além de demorado. O plano da empresa para baratear o processo é trazer a produção para mais perto do mercado. Segundo Jaime Ozi, gerente responsável pela operação no Brasil, a planta geneticamente modificada deve começar a ser plantada na Colômbia, onde a legislação permite isso, e o remédio será sintetizado a partir do ano que vem no país latino. A partir de 2021, se nada mudar no entendimento da Anvisa sobre o produto, o óleo chegaria no Brasil mais barato e de forma mais rápida.

O diferencial do medicamento da Spectrum é uma escala de cores para facilitar a receita médica: cada um dos itens da linha possui uma concentração diferente de THC e CBD, facilitando o uso de uma dose ideal para cada paciente. Briques explica que cada pessoa reage de forma diferente ao canabidiol e, por isso, é importante encontrar a mistura exata entre os princípios ativos para garantir o melhor resultado.

A expectativa do mercado é que a consulta pública liberada pelo órgão na última terça-feira (11/06/2019) seja positiva para a indústria. Caso aprovado o plantio para empresas no país, o acesso será facilitado. Nesta situação, a Spectrum estuda um plano B: trazer o plantio e produção dos medicamentos para o Brasil.

A repórter viajou a convite da Spectrum Therapeutics.

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