Restaurante Don León serve comida espanhola a sua própria maneira
Nascido no interior de São Paulo, o restaurante tem lá suas vantagens, mas peca no principal
atualizado
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O cenário da gastronomia brasiliense vive de modismos. Já falei sobre este assunto algumas vezes por lamentar a falta de boas casas com propostas mais arrojadas ou mesmo que contemplem a contento cozinhas tradicionais de mais países. Em geral, os empreendedores preferem investir no que eles acreditam ser seguro. Nos últimos 12 meses, por exemplo, pudemos ver diversas inaugurações de novas casas, mas a maioria focada nos mesmos conceitos. Carne e comida italiana são as modas da vez.
Enquanto isso, a cidade ainda carece de diversidade. A cozinha espanhola, por exemplo, que é tão rica em sabores, encontra pouquíssimos representantes. Que saudade, aliás, do Isaac Corcias, que preparava divinas paellas no La Torreta, na 402 Sul. Depois dele, também sinto falta do Barcelona, um bar de tapas na 206 Sul, que eu frequentava muito, especialmente às terças-feiras, após as aulas de espanhol no Instituto Cervantes. E ainda está na minha memória o Jamón Jamón, que virou Rincón Ibérico. Este ainda funciona na 109 Norte, de quarta a domingo.
O restaurante espanhol que eu ainda não conhecia, embora tenha sido inaugurado em novembro de 2020, chama-se Don León e está na comercial da 112 Sul. A casa é a terceira unidade da marca, fundada em 1964, na cidade de Monte Aprazível (SP), por uma família espanhola, que chegou ao Brasil de navio um ano antes. A segunda unidade fica em São José do Rio Preto.
Com ambiente da MAAI Arquitetura, o local é agradável, especialmente porque aproveita a marquise do comércio como salão, o que garante um almoço ou jantar quase ao ar livre, bem arejado. Gosto das toalhas brancas, que conferem um ar de sofisticação para contrastar com a informalidade do espaço. O atendimento é bastante atencioso e os garçons demonstram um conhecimento geral do menu.
O que comi
A lista de pratos é consideravelmente extensa a começar pelas 14 opções de entrada. A minha escolhida foi o Polvo Ruiz (R$ 59), cujo molusco é cortado em fatias finas após o cozimento e segue para a frigideira para ser refogado com azeite, cebola, alho e páprica espanhola. Pode ser degustado com o pão da casa, que é bem macio. Alguns pedaços me pareceram um tanto rígidos, mas no geral, o prato tem um bom sabor. Acrescentei camadas sensoriais com gotas de sumo de limão e molho de pimenta, porque gosto de brincar com o meu próprio paladar. Ficou bom.
Fiquei com vontade de provar o vinagrete com polvo (R$ 59) e o carpaccio de bacalhau (R$ 48), mas economizei o espaço do estômago porque coloquei como missão comer a paella. O prato mais conhecido do país ibérico é um deleite para mim, que sou descendente de espanhóis e já provei várias receitas por aí.
A minha expectativa era alta, confesso. Mas a realidade é que a paella de frutos do mar (R$ 176) não entregou o que eu esperava. A forma de preparo da casa leva arroz agulhinha e não o bomba. A diferença é que o grão da receita original confere um pouco de cremosidade ao caldo e resulta numa paella com aquele molhadinho gostoso, sabe como? Já o arroz escolhido tem um resultado mais seco.
Outra percepção minha foi sobre o caldo. Não me pareceu um caldo robusto, daqueles que se faz com as cascas e redução de algumas horas. Geralmente, quando é preparada assim, a paella apresenta uma tonalidade final mais escura e não tão amarela. Enfim, o sabor não estava ruim, que fique claro, mas para uma casa que se propõe a servir a comida original espanhola, e que cobra o equivalente, creio que ficou devendo. E nem estou exigindo o socarrat (o arroz grudadinho do fundo da panela, que todo espanhol ama) e nem um sabor mais pronunciado do original açafrão.
Também não fui feliz na escolha da sobremesa. A crema catalana (R$ 28) me pareceu um mingau, meio gelatinoso e com uma cobertura parca de açúcar mal maçaricado. O sabor até que não estava mal, com um toque cítrico, mas não era o que eu estava esperando.
Apesar de me decepcionar com os pedidos, vou voltar à casa para provar outros pratos, na esperança de reverter esta primeira impressão negativa. Há várias outras opções no menu, como a caldeirada espanhola (R$ 192), as receitas de bacalhau (de R$ 192 a R$ 199) e polvo à galega (R$ 229), então creio que alguma (ou mais) vai me satisfazer.
Ah, a casa não fecha entre o almoço e o jantar, então pode ser opção para quem gosta ou precisa comer mais tarde.
Serviço:
CLS 112, bloco A, loja 29
Telefone: (61) 99276-2727
Funciona de segunda a sábado, das 11h30 as 23h, e domingo, das 11h30 às 16h.
Instagram: @donleonbrasilia
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