Polêmica: café sem açúcar é muito melhor
Por décadas, criamos o hábito de adoçar a bebida. Com a evolução do mercado, não é mais necessário. Confira dicas para aderir ao movimento
atualizado
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Hoje, o assunto é polêmico e eu sei que alguns podem torcer o nariz para o café sem açúcar. Ainda assim, defenderei meu ponto de vista e, como sempre, sem tom ditatorial, apenas porque conhecimento guardado não serve para nada. Provocar a reflexão, mesmo que seja sobre o cafezinho nosso de cada dia, é papel fundamental do jornalismo.
Então, vamos lá. Eu sei que fomos acostumados a tomar café com açúcar e que parece meio estranho quando alguém sugere que retiremos este ingrediente do nosso hábito cotidiano. Só de pensar, já dá aquele arrepio, né?
Mas deixa eu te contar uma coisa! A tradição de tomar café com açúcar está diretamente ligada à qualidade dos grãos que estavam ao nosso alcance antigamente. Sim, porque há uns 15 anos, os bons grãos eram vendidos para o mercado internacional e o que sobrava para nós era um produto inferior, que necessitava de uma torra bem mais intensa para esconder os defeitos.
Desta forma, o que chegava à xícara era um pó amargo e desequilibrado. Consequentemente, havia a necessidade de adicionar açúcar, para tornar a bebida mais agradável ao paladar.
Outra realidade
Uma década e meia depois, vivemos novos tempos (ainda bem!). O mercado do café cresceu, as denominações de origem trouxeram uma melhor percepção do produto e o brasileiro se tornou mais exigente.
Esse conjunto de fatores incentivou uma oferta mais qualificada, tanto nas gôndolas dos supermercados quanto em cafeterias e restaurantes. Pouco a pouco, o café pode mostrar que, assim como o vinho, também apresenta nuances de aroma e sabor, dependendo de como e onde foi cultivado.
Atualmente, é possível encontrar um café que se adequa perfeitamente ao seu gosto pessoal, não somente pelo grão, como também pela popularização dos vários métodos de preparo, que entregam diferentes resultados após a extração.
Entretanto, todo o cuidado que o produtor aplica à lavoura para produzir um café único e cheio de personalidade perde o sentido se o consumidor não sentir na xícara as notas, por vezes cítricas, achocolatadas ou acastanhadas. A escolha é de cada um, e ninguém é obrigado a nada. Então, eu pergunto: adianta investir em um café melhor se a experiência não será completa?
Costume
Eu sei que o seu paladar pode estar acostumado ao café com açúcar, que este comportamento remete a momentos afetivos em família e que mudar hábitos é algo que evitamos, por uma questão psicológica. Te convido, porém, a se aventurar neste universo de aromas e sabores e desafiar o seu olfato e paladar.
Se esta ideia faz sentido para o seu momento atual, continue a leitura. Nas próximas linhas, te dou dicas para aderir ao movimento.
- Primeiramente, é bom você saber que o café puro tem propriedades que aceleram o metabolismo e trazem saciedade e bem-estar. Quando consumido adoçado, o efeito já não é o mesmo, porque o açúcar estimula a vontade de comer. Fora que o teor calórico será maior.
- Ao tomar o café puro, conseguimos sentir melhor os atributos sensoriais, como o corpo, os aromas e sabores naturais, e os obtidos a partir dos diferentes níveis de torra.
- Há quem diga que são necessários poucos dias para que seu paladar se acostume ao café sem açúcar. Caso não queira cortá-lo de vez, vá diminuindo aos poucos até passar a consumir a bebida pura.
- Cheire o seu café de olhos fechados. Isso vai te ajudar a reconhecer aromas e te proporcionar uma experiência sensorial mais rica.
- Atualmente, o mercado oferece diversos tipos de grãos e você pode escolher o que mais combina com o seu paladar. É possível achar os mais doces, os mais cítricos, os frutados, os achocolatados, os que têm mais cafeína, os mais encorpados e leves. Você é livre para decidir.
- Se tiver dificuldade em encontrar grãos especiais em supermercados ou empórios, uma dica é procurar nas melhores cafeterias da cidade. A maioria vende café garimpados em diversas regiões do país. Os baristas desses lugares podem te ajudar a escolher o melhor para o seu paladar.
- A intensidade da torra também influencia no sabor, podendo torná-lo mais ou menos amargo.
- Vale lembrar que os diferentes métodos de extração também geram bebidas mais ou menos encorpadas e amargas. Os filtrados, como Hario V60, Chemex, Clever ou coado no filtro de papel, em casa mesmo, resultam em bebidas mais leves. Nesse caso, vai depender da quantidade de pó e tempo de infusão.
- Já o café espresso, extraído em máquina ou na mocha italiana, tem a tendência de ser mais forte, encorpado e de amargor mais acentuado. Então, a minha dica é começar pelos infusionados e depois passar para os mais fortes, assim, seu paladar vai estranhar menos.
Se você chegou até aqui, quero te desejar boas-vindas a esse novo mundo. Que as suas experiências com café sem açúcar sejam cada vez mais ricas.
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