Manuelzinho é um personagem icônico e sua casa tem comida ímpar
No Brasil desde 1977, o português firmou seu nome na gastronomia e tem clientes fiéis onde quer que vá
atualizado
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É quase impossível falar sobre a gastronomia portuguesa no Brasil sem citar o nome de Manuelzinho Pires. Nascido em Elvas, cidade alentejana do distrito de Portalegre, ele chegou ao Brasil em 1977 para trabalhar no restaurante Antiquarius. A casa fez história no Rio de Janeiro, recebendo celebridades de todo o mundo, além de políticos, artistas e esportistas.
Em 2011, a Cidade Maravilhosa foi trocada por Brasília. Era a hora de levar a marca para o centro do país. Foi aí que conheci esse português animado, de sorriso largo e bastante cortês. Manuelzinho, antes de tudo, é um gentleman como poucos ainda existentes nesse mundo. Outra virtude sua é a paixão pela gastronomia. É a dedicação a ela que o faz nos apresentar o melhor da comida portuguesa, muito além do bacalhau, e a compartilhar experiências vividas em sua terra e em viagens pelo mundo.
Certa vez me contou sobre a decepção de se hospedar na Serra da Estrela e não encontrar o famoso queijo daquela região no estabelecimento. “Não é pelo queijo em si, mas pela expectativa frustrada”, me disse com um semblante triste de quem perdeu a oportunidade de saborear uma divina iguaria no local que seria ideal. Confesso que me sinto igual em muitas ocasiões, coisa de quem ama comer de verdade (risos).
Voltando à trajetória de Manuelzinho, depois do fechamento do Antiquarius, no Parkshopping, ele abriu o Tejo, na 404 Sul, levando consigo a clientela já fiel. Assim como no Rio de Janeiro, era comum encontrar personalidades em suas mesas. Foram cinco anos de parceria, até que a ruptura o levou a uma nova sociedade, com Flávio Silva Alves, também dono da rede Potiguar, e à primeira casa com o seu nome estampado na fachada.
O restaurante Manuelzinho foi inaugurado no fim de junho de 2021, também na 404 Sul, com uma decoração limpa e sofisticada, embora ainda despojada. O projeto é de Mel Mello. A varanda na parte traseira do imóvel é bastante iluminada e conta com ventilação natural. Foi lá que me sentei para, mais uma vez, degustar algumas das receitas que o português elegeu para o menu.
O que comer
Para começar, fui de bolinho de bacalhau (R$ 29), esse ícone da culinária lusitana, muitas vezes maltratado com preparos sem gosto e cheios de batata. No Manuelzinho, no entanto, eles são temperadinhos, com um leve toque de acidez, que até dispensa o uso do sumo de limão. Basta apenas um fio de azeite para a experiência ser satisfatória. Se o bolso permitir, vale acompanhar com um vinho branco com boa acidez ou mesmo uma cerveja gelada.
Outra entradinha que vale a prova é o pastel com um recheio bem cremoso de pato (R$ 24). Sou suspeita porque adoro a carne desta ave. Aliás, não comi desta vez o arroz com ela (R$ 79), mas já vou incluir na próxima refeição por lá. Sabe aquele prato suculento e que aquece a alma? É este aqui mesmo. Voltando às entradas, ainda há croquete de carne (R$ 24), punheta de bacalhau (R$ 39), polvo e lula salteados no azeite (R$ 99), e camarão à Zico (R$ 79). Sim, este é uma homenagem ao jogador de futebol que era cliente assíduo do Antiquarius.
A minha escolha para principal foi o bacalhau à lagareiro (R$ 99), composto por uma posta alta e levemente crocante, cebolas levemente caramelizadas, brócolis e batatas. Simples, mas impecavelmente saboroso. É bom demais comer um peixe tão macio e úmido, que despetala e desmancha na boca sem esforço. Uma opção que quase me fez desistir do bacalhau foi o polvo também à lagareiro (R$ 159), que é um clássico de todas as casas por onde passou Manuelzinho e creio que aqui é tão bom quanto nas outras. Fica para a próxima visita. Ou talvez eu queira provar o picadinho à moda do Rio (R$ 69) ou o arroz de robalo com camarões (R$ 99). Vai depender do meu paladar no dia.
Se fui parcimoniosa nas outras etapas, na sobremesa, abusei. Primeiro porque é difícil resistir ao estrogonofe de nozes. Segundo porque pastéis de natas são uma paixão pra mim. E terceiro porque o toucinho do céu estava muito apetitoso quando o vi na bandeja trazida pelo garçom. Ai, minha glicose! Todas as opções de doces conventuais saem a R$ 24,90.
A casa tem algumas sugestões do dia, além do menu oficial. Dentre elas estão a entrada de bochecha de porco (R$ 49), linguado ao molho de laranja (R$ 89) e arroz de cabrito (R$ 69).
Independentemente do que for comer quando passar por lá, vale um dedinho de prosa com Manuelzinho e com a esposa e fiel escudeira Natividade Pires. Depois me diga se ele não é uma figura ímpar, daquelas que a gente tem vontade de ter sempre por perto para trocar experiências e vivências sobre comida. A taurina que vive em mim adora esses papos. Aguardo depoimentos.
Serviço:
Manuelzinho
404 Sul, bloco A
Telefone: (61) 3257-8999
Funciona de segunda a sábado, das 12h às 15h, e das 19h às 23h30; domingo, das 12h às 17h. Telefone: 3257-8999.
www.manuelzinhorestaurante.com.br