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Entenda: nem todo espumante é champanhe nem prosecco

Vinhos espumosos têm nomenclaturas diferentes, a depender da região e do método de produção. Saiba mais sobre o tema e não pague mais mico

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taças de champanhe em mesa
1 de 1 taças de champanhe em mesa - Foto: Pexels por Pixabay

Há muito tempo, os vinhos vêm ganhando o gosto e o interesse dos brasileiros. E a pandemia provocou uma aceleração neste processo. Prova disso foi a alta no consumo em 2020, se comparada a 2019. No ano passado, a indústria nacional registrou uma alta de 30% nas vendas, enquanto a importação bateu 26% a mais.

Com o calor que tem feito no Brasil, a procura pelos espumantes também cresceu, afinal, nada melhor do que algo fresco e geladinho para aliviar a sensação provocada pelas altas temperaturas. Todavia, o consumidor ainda tem dificuldades para entender a bebida e as suas nomenclaturas. E como eu sei que a informação e o conhecimento são as melhores ferramentas para proteger o bolso e evitar micos em restaurantes e conversas com amigos, trouxe hoje um guia básico sobre esta bebida que provoca a sensação de estrelas no céu da boca, como diria Don Pérignon, seu “inventor”.

A origem

Os espumantes nasceram na França, na região de Reims, a cerca de 150 quilômetros a leste de Paris. De acordo com historiadores, alguns vinhos produzidos ali eram engarrafados antes da fermentação total e estouravam as garrafas por conta do gás carbônico resultante do processo.

Foi o monge Dom Pérignon o responsável por entender e aperfeiçoar essa produção, fazendo com que o prejuízo se convertesse em uma bebida aclamada no mundo inteiro. Dentre outras inovações, ele adotou o uso de garrafas mais grossas e a amarração de rolhas com arames para evitar a “explosão”. Também foi ele que começou a misturar vinhos de uvas diferentes. O processo, chamado de assemblage, permite um equilíbrio melhor e a obtenção de uma bebida mais agradável ao paladar. Não à toa, atualmente, uma das marcas mais conhecidas e respeitadas no mundo dos vinhos há séculos é a Dom Pérignon.

Outro personagem importante para a história dos espumantes e que também virou grife é Nicole-Barbe Ponsardin, a Viúva Clicquot. Depois da morte do marido, em outubro de 1805, ela se tornou a primeira mulher a chefiar uma empresa de champanhe e criou o método de dégorgement, que garante a limpidez da bebida.

Com o passar dos anos, outras regiões da França e de outros países adotaram a técnica original de produção deste tipo de vinho, chamada de champenoise. Também foi desenvolvido um método mais simples para se obter o produto, denominado charmat, no qual a segunda fermentação é realizada em grandes tonéis de aço inoxidável ao invés da garrafa.

Para diferenciar estes produtos e o tipo de método usado para chegar até eles, há diversas nomenclaturas usadas na indústria vitivinícola. Vamos a elas.

Espumante

É o nome mais geral, aplicado a todo vinho produzido a partir de duas fermentações, seja a segunda tendo sido realizada em garrafa ou em tonéis de inox. Ainda há uma segunda denominação, geralmente declarada no rótulo, que depende da concentração residual de açúcar. Nos secos, temos o espumante nature, com graduação de até 3g por litro da bebida; o extra brut, de 3,1g a 8g; e os brut, entre 8,1g e 15g gramas. Nos mais adocicados, as nomenclaturas vão do sec, que apresenta entre 15,1g e 20g; demi-sec, de 20,1g a 60g por litro; e doce com teor de açúcar residual superior a 60g por litro. É importante prestar atenção nesta segunda classificação na hora da compra, para adequar a bebida ao seu paladar ou à ocasião. Diversos países produzem este tipo de vinho, como Brasil, Portugal, Espanha, França, Alemanha, Itália, Chile, Argentina, Uruguai, África do Sul e Austrália.

Champanhe

É aplicado aos espumantes produzidos na região delimitada de Champagne sob as regras de uma Denominação de Origem (DO). Entre elas estão o uso obrigatório das uvas Pinot Noir, Chardonnay e Pinot Meunier e utilização do método tradicional. Em geral, suas garrafas não são safradas, ou seja, não consta o ano de fabricação no rótulo. Os produtores só colocam esta informação quando a safra é excepcional. O champanhe safrado é chamado de vintage. Durante a degustação, é possível encontrar notas mais complexas de aroma e sabor, como pão torrado, frutos secos e amêndoas. Invariavelmente, são os mais caros do mercado.

Cava

É o espumante feito na Espanha pelo método tradicional. As primeiras garrafas foram produzidas na região da Catalunha, no século XIX. As uvas utilizadas nestes vinhos são a Macabeo, a Xarel-lo e a Parrellada e rendem vinhos frescos e delicados ou mesmo mais encorpados. É possível encontrá-los sob três sub-divisões, de acordo com o tempo de fermentação. A do jovem dura de 9 a 14 meses; do reserva, de 15 a 29 de meses e do gran reserva, no mínimo 30 meses.

Prosecco

Produzido na região do Vêneto, na Itália, este espumante é elaborado pelo método charmat. Por isso tem um sabor mais fresco e jovem, por vezes até mais adocicado. As notas sensoriais remetem a frutas brancas, como maçã e pera, e cítricas, como limão; além de apresentarem aromas florais. Por muito tempo a uva usada para produzir este espumante também foi chamada de Prosecco. Em 2009, com a alteração na denominação de origem do vinho, seu nome passou a ser Glera. Uma curiosidade é que até o século XX, o prosecco era mais doce, similar aos vinhos de Asti, no Piemonte. A implementação de novas técnicas produtivas levou as vinícolas a perceberem um potencial mercadológico para um produto mais seco. A estratégia, adotada a partir da década de 1960, parece ter dado certo, pois o vinho ganhou mais procura no mundo inteiro.

Brinde com taças de espumante

Asti

Originário da região do Piemonte, o espumante Asti é elaborado com uvas da variedade Moscatel, desde o século XVI. É um vinho doce e com baixo teor alcoólico, ideal para acompanhar sobremesas. Este vinho é o único da categoria de espumantes que não passa por duas fermentações. O processo começa com a colocação do mosto (suco da uva) em cubas de inox com as leveduras que vão ativar a fermentação. Assim que o teor alcoólico alcança um nível entre 6% e 10%, o produto é resfriado a -3ºC. Desta forma, o processo é interrompido. Por isso mesmo, a bebida tem uma concentração de açúcar maior, tendo em vista que esta substância, presente no suco da uva, ainda não foi totalmente consumida pelas leveduras.

No Brasil

A produção de espumantes no Brasil é reconhecida como de alta qualidade em concursos internacionais, realizados em vários países. Diversas vinícolas colecionam um sem número de medalhas, tanto de ouro quanto de prata e de bronze.

Por aqui, já existem seis indicações de procedência para vinhos (Campanha Gaúcha, Farroupilha, Monte Belo, Pinto Bandeira, Vale da Uva Goethe, Vale dos Vinhedos). No entanto, ainda não temos uma específica para este tipo de bebida. A primeira deve ser a de Espumante Natural Altos de Pinto Bandeira, cuja documentação tramita no Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) desde meados de dezembro de 2020.

De acordo com a papelada, os espumantes da futura D.O têm aromas finos e elegantes, de frutas e com a presença de levedura; e podem ser classificados como frescos ou maturados. Os produtos são elaborados com Chardonnay, Pinot Noir e Riesling Itálico, pelo método tradicional, com permanência de pelo menos 12 meses em contato com as leveduras. As vinícolas Don Giovanni, Cooperativa Vinícola Aurora, Valmarino e Cave Geisse fazem parte da associação que pede a indicação de procedência.

O assunto ainda dá pano para muita manga, digo, para muita uva. Mas creio que este texto já pode te ajudar a entender melhor este mundo borbulhante. Voltarei ao assunto com outros temas, em breve.

Para mais dicas sobre gastronomia e vinhos, siga-me no Instagram (@lucianabarbo).

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