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Etiqueta da rolha: veja 10 regras para não abrir mão dos vinhos

Se restaurantes e clientes lidarem com a questão mantendo o bom senso, todos sairão lucrando

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Pouring red wine into a wineglass
1 de 1 Pouring red wine into a wineglass - Foto: iStock

Hoje, vamos continuar falando sobre a polêmica “taxa de rolha”, sem a pretensão de esgotar o tema. Na coluna anterior, comentamos sobre os argumentos favoráveis e contrários à cobrança, pela opinião de clientes, enófilos, profissionais do vinho e de proprietários de restaurantes.

Aqui, já posso ouvir as críticas à falta da opinião do colunista, mas garanto que ela está nas entrelinhas do texto e, bem provavelmente, lá na conclusão do texto. Como conversei com muita gente, procurei exercer a difícil arte de ouvir.

Lendo tantas opiniões sobre a cobrança da “taxa de rolha” uma questão se formou para mim, e para a qual eu não tinha resposta. Há nesta cobrança um desafio ou dilema ético?

Acredito que encontrei um esclarecimento com o filósofo político norte-americano Michael Sandel, professor de Harvard e autor do livro O que é fazer a coisa certa. Em sua definição, a cobrança de uma taxa seria para estimular alguém por meio de um incentivo. Em contrapartida, o nível de exigência vai aumentar, uma vez que estou pagando por um serviço.

Onde surge o desafio à ética profissional: na minha mesa estou pagando a “rolha” e na mesa ao lado está sendo consumido um vinho de alto valor, cujo lucro para o restaurante é muito superior ao da “rolha”. Será que vou receber o mesmo serviço? A mesma atenção? Ou seja, a diferença de valor atribuída ao mesmo serviço prestado corrói a confiança do cliente.

A “taxa de rolha” entra nos 10%? Vale cobrar serviço sobre uma taxa de serviço?
“Se recusar a falar de assuntos polêmicos não é ser neutro; é deixar que os mercados decidam por nós.” (Michael Sandel). Portanto, vou falar: sou totalmente contra! Aqui, não há dilema ético, simplesmente é errado.

Como fica a liberdade de mercado?
É fácil concordar com o argumento de que cada proprietário de um estabelecimento, que investiu seu capital e trabalho e sabe dos seus custos, possa decidir sobre a própria política de preços, e que cabe ao cliente apenas decidir se quer pagar ou não.

Mas uma das principais expectativas de uma troca no livre mercado, onde o cliente entra com o seu bem (dinheiro) e o restaurante com o seu serviço e produto, é que as duas partes se beneficiem e saiam satisfeitas nesta troca.

Dizer que cabe ao cliente decidir se quer frequentar ou não o restaurante, que ele possui a liberdade de escolha, é o argumento do mercado. Mas esse argumento se revela errôneo porque parte da premissa que o cliente está informado de todas as alternativas existentes e que pode escolher sem a pressão de preço, distância, tipo de culinária, etc. Assim, se o cliente tiver poucas informações e alternativas de escolha, para ele o mercado não será tão livre assim.

Qual a regra que atenderia a todos os lados?
A resposta para esta questão já foi apresentada pelo sensacional Barão de Itararé, pseudônimo do jornalista e escritor Apparício Torelly (1895-1971). Seria uma lei que resolveria todo o tipo de problema. Cito de memória:

Artigo 1º. A partir de agora fica decretado o bom senso.
Artigo 2º. Revogam-se as disposições em contrário.

Sei que há quem acredite que as pessoas só têm bom senso quando são da nossa opinião. Mas se cada lado se colocar no lugar do outro, sempre mantendo o bom senso e não o abandonando em hipótese alguma, todos sairão lucrando.

Os clientes, seguindo as regras de “etiqueta da rolha”, não abrindo mão dos bons restaurantes e dos bons vinhos.

Os restaurantes, trabalhando com margens menores nas cartas; com um serviço de excelência e uma taxa de rolha justa, para que não pareça que estão colocando um preço no bom senso dos clientes.

Conclusão – minha opinião
Quando entre tantos restaurantes o cliente decidir eleger um para compartilhar seu vinho com pessoas importantes para ele, sua expectativa é a de ser bem atendido, desfrutar de uma boa experiência culinária em um ambiente agradável. O custo nem sempre é o principal fator, mas está entre os principais.

Acredito que os restaurantes devem avaliar esta questão da “taxa de rolha” não apenas por uma perspectiva, mas que a pensem dentro da estratégia de marketing do estabelecimento, focando em qual tipo de público que desejam atrair.

Não cobrar a “rolha” atrai um grande público específico de clientes, mas a cobrança entre R$30 a R$40 por garrafa não é descabida. Nunca esquecendo que um serviço cobrado deve ser prestado.

Portanto, não tenha receio em levar o seu vinho ao restaurante de sua preferência, mas ligue antes para não ter nenhum dissabor.

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