Do jantar à sobremesa: saiba quais vinhos servir na ceia de Natal
A coluna indica quais as melhores opções de brancos, tintos e espumantes para usar na festa natalina
atualizado
Compartilhar notícia
“Então é Natal, a festa cristã, do velho e do novo”. A celebração do nascimento de Jesus Cristo, o Dia da Família. A palavra “natal” vem do latim “natális”, que significa nascer. Com ela volta a velha pergunta endereçada ao sommelier: “Qual o melhor vinho para a ceia de Natal?”.
Mas antes de falarmos de vinhos, um pouco de história. Até o ano 350, no século IV, a data do nascimento de Jesus não era definida. Assim, o Papa Júlio I determinou que seria no dia da festa pagã do solstício de inverno (dia em que o sol está mais longe da Terra), que no hemisfério norte acontece em torno do dia 22 de dezembro.
A ceia de Natal representa a fartura, uma vitória sobre a fome que nossos antepassados sofreram. A mesa é composta por diversos pratos principais, muito diversos entre si, como também serão diferentes os paladares dos convidados. Assim, o desafio é dobrado: harmonizar todos os pratos com poucos vinhos e atender ao gosto de todos participantes.
Devido à variedade dos pratos, iremos buscar na harmonização vinhos “coringas” que tenham a possibilidade de “maridagem” com mais de uma receita servida. Vamos então, sem estresse, nos fixar nos pratos principais da noite. Nosso objetivo em procurar harmonizar os vinhos com os pratos servidos é que tudo fique mais gostoso.
Dicas de vinhos para os principais pratos da ceia de Natal
Vinhos
O vinho é uma bebida plena de simbologias. Para começar, ele é feito de uvas, a fruta da boa sorte. É uma bebida relacionada à fertilidade, ao sagrado e ao amor divino, sendo que para os cristãos simboliza o sangue de Cristo.
O peru, pernil de porco, bacalhau e rabanada estão entre os pratos clássicos da ceia natalina, mas temos também um vinho que não costuma faltar, o festivo espumante, símbolo da alegria e das comemorações, com a vantagem de dar certinho com as entradas.
Peru, chester ou lombo de porco
A carne na ceia de Natal simboliza o corpo do filho de Deus. O peru era uma ave criada pelos Astecas e Maias, e apenas em 1518 os primeiros colonizadores espanhóis o descobriram e o levaram para a Europa, onde substituiu o consumo do cisne.
Veio dos Estados Unidos a tradição de comer peru na época do Natal. A ave foi o alimento que deu fim à fome dos primeiros colonos ingleses que lá chegaram. O peru, a ave capaz de alimentar muitas pessoas, simboliza a fartura.
Como em todos os pratos, a harmonização com o vinho vai depender da receita escolhida, já que algumas são bem doces.
Vinho branco: Viognier ou Chardonnay com mais estrutura, com passagem por barricas de carvalho.
Vinho rosé: os com mais cor.
Vinho tinto: opte pelos mais leves, como um Pinot Noir, vinhos jovens da Espanha, Valpolicella Classico, Gamay, Tempranillo ou Sangiovese. Se a receita for mais doce, um Merlot ou Primitivo.
Pernil de porco
Espumante: branco ou rosé brut.
Vinho branco: Viognier, Riesling ou Chardonnay com mais estrutura, com passagem por barricas de carvalho. Brancos da Rioja, Espanha e do Alentejo ou do Douro, Portugal.
Vinho rosé: os com mais cor.
Vinho tinto: opte pelos mais encorpados e tânicos para limpar a gordura como os da uva Baga de Portugal. Malbec, Cabernet Sauvignon ou Barbera d’Asti.
Tender
Vinho branco: Viognier, Riesling ou Chardonnay com mais estrutura, com passagem por barricas de carvalho. Brancos da Rioja, Espanha e do Alentejo ou do Douro, Portugal.
Vinho rosé: os com mais cor.
Vinho tinto: opte pelos de corpo médio como o Chianti Clássico e o Merlot.
Bacalhau
O peixe simboliza sempre os milagres de Jesus.
Vinho branco: Viognier, Riesling ou Chardonnay com mais estrutura, com passagem por barricas de carvalho. Brancos da Rioja, Espanha e do Alentejo ou do Douro, da uva Alvarinho e também os Vinhos Verdes, Portugal.
Vinho rosé: os com mais cor.
Vinho tinto: vamos lembrar que segundo os portugueses, “bacalhau não é peixe, bacalhau é bacalhau!”, portanto opte pelos tintos leves e com poucos taninos. Vamos nos concentrar em Portugal: Vinho Verde ou do Dão, vinhos das uvas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz ou Tinta Barroca.
Maionese
Vinho branco: para cortar a gordura do prato, o vinho deverá ter muita acidez. Sauvignon Blanc ou Alvarinho. Um Vinho Verde será perfeito.
Carneiro
Vinho tinto: independentemente da receita, precisaremos de um vinho encorpado, como Cabernet Sauvignon, Tempranillo, Syrah ou Malbec.
Salmão
Vinho branco: como é um peixe de carne firme e com sabor marcante, ficará bem com um Viognier, Riesling ou Chardonnay com mais estrutura, com passagem por barricas de carvalho. Já o salmão defumado precisará de mais acidez: Sauvignon Blanc ou um Vinho Verde.
Frutas e castanhas secas
As frutas e castanhas secas (nozes, avelãs, castanhas secas, pistache, figos, tâmaras, passas, ameixas ou damasco) simbolizam que não haverá fome nem pobreza, mas sim a abundância e a prosperidade.
Espumante: branco ou rosé brut. Apenas com as frutas um demi-sec ou Moscatel.
Vinho branco leve.
Vinho rosé: os com pouca cor.
Vinho de sobremesa: Colheita Tardia e Vinho do Porto.
Frutas frescas
As frutas também possuem sua simbologia.
Melancia: símbolo da fecundidade em virtude de seu grande número de sementes.
Uva: traz boa sorte
Figo: atrai saúde, paz e harmonia.
Abacaxi: símbolo de boas vindas. Por volta de 1700, na América do Norte, devido ao clima frio era impossível cultivar o abacaxi. Eram importados e custavam caro. Era uma honra para o convidado encontrar um abacaxi na mesa.
O vinho precisará ter uma acidez agradável e um toque de doçura como os da uva Gewürztraminer ou os espumantes Moscatel.
Sobremesas
Dica do Sommelier: a doçura do vinho deve ser igual ao superior à da sobremesa. Espumante Moscatel, Vinho do Porto de estilo Tawny, Moscatel de Setúbal ou Colheita Tardia.
Panetone: espumante Moscatel.
Fios de Ovos: simbolizam riqueza
Rabanada: doce português. Também conhecido como “fatia de mulher parida”, uma vez que foi criada para recuperar mulheres após o parto.
Serviço dos vinhos
Toda vez que leio sobre estes cálculos de vinho por pessoa e vejo uma recomendação de poucas garrafas, eu penso: “Quem são estas pessoas? Não conheço nenhuma assim”. Mas vamos lá, seguindo os dados oficiais e mais uma pequena reserva técnica.
– Calcule uma garrafa de espumante para cada cinco pessoas, sendo conveniente ter duas ou três garrafas de reserva.
– Calcule meia garrafa de vinho por pessoa, mas também é conveniente ter duas ou três garrafas de reserva.
– Um exemplo: para uma ceia com vinte pessoas, serão cinco espumantes, três brancos e seis tintos (não se esqueça das reservas técnicas de espumantes e de tintos).
Chegamos ao final da coluna e parece que dei tantas alternativas que não esclareci nada. Como meu objetivo é simplificar a vida, vou sugerir o mesmo que farei na minha casa.
Espumante: para brindar o Natal, pode ser um rosé cuja cor combina com a festa.
Vinho branco: Chardonnay, com passagem por madeira, para acompanhar as carnes brancas e até o pernil de porco. Para o salmão, um vinho com mais acidez. Recomendo um Sauvignon Blanc.
Vinho tinto: pensei num de estrutura média, equilibrado e com boa acidez, com uma complexidade agradável na boca e capacidade de agradar a todos os paladares. Concluí que estava falando de um Pinot Noir ou de um Merlot.
Vinho de sobremesa: Colheita Tardia e um Vinho do Porto, de preferência um Tawny.
Então é Natal
A festa cristã
Do velho e do novo
Do amor como um todo
Então, bom Natal
(John Lennon e Yoko Ono, versão de Claudio Rabello)