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Quem é Kim Paim, citado pela PF na investigação da Abin paralela

Influenciador digital Kim Paim é “vetor de propagação” de “dossiês” obtidos ilegalmente pela Abin paralela, afirmou a Polícia Federal ao STF

atualizado

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Reprodução/YouTube
kim paim
1 de 1 kim paim - Foto: Reprodução/YouTube

O influenciador digital Kim Paim foi citado pela Polícia Federal (PF) nas investigações da estrutura paralela da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) como um “vetor de propagação” do monitoramento ilegal dos investigados. Os documentos basearam a quarta fase da Operação Última Milha, que prendeu cinco pessoas na última quinta-feira (11/7). Com dois milhões de seguidores, Paim é presença constante nas redes sociais da família Bolsonaro.

A PF apontou que a Abin espionava, sem autorização, autoridades, servidores públicos e jornalistas considerados pelo governo Bolsonaro como opositores. Em uma das mensagens anexadas à investigação, Richard Pozzer, empresário preso pela PF, enviou a Paim um dossiê contra agências de checagem, alvos recorrentes dos bolsonaristas. A conversa aconteceu em 2021.

“Caraio. Não sei nem como colocar isso em um vídeo. Trabalho profissional demais”, respondeu Paim. O contato com Paim foi comemorado por Pozzer junto a outro contato da Abin paralela: “Mais um canal aberto pra gente”. Questionado pelo colega se referia-se a Paim, respondeu: Exatamente!!! Já temos por onde escoar o esgoto”.

Outros dois presos na operação da Polícia Federal mencionaram Paim em mensagens. O militar Giancarlo Rodrigues e o agente da PF Marcelo Bormevet, que tinham cargos de confiança na agência, usaram uma publicação de Paim para atacar o ministro do STF Luís Roberto Barroso. “Estou assistindo o Kim Paim de hoje. Ele disse que o assessor do Barroso já é investigado. Temos que sentar o pau nesse assessor. Manda bala”, disse Bormevet.

Paim é baiano e mora na Austrália desde 2015. Não vem ao Brasil desde 2017. Com mais de 2 milhões de seguidores nas redes, Paim obtém renda por meio do YouTube, onde publica um vídeo de cerca de uma hora todos os dias, e de seu site, onde vende conteúdos a assinantes por até R$ 100 mensais. O bolsonarista apresenta o programa de ternos pomposos, tem a fala mansa e ostenta um bigode à moda antiga. O conteúdo, alardeado como “dossiê”, é feito diariamente há cinco anos, desde que lançou o canal no YouTube. Paim diz a aliados que no período não ficou um dia sequer sem publicar o conteúdo. O influenciador é impulsionado principalmente por Carlos Bolsonaro, que costuma rasgar elogios ao youtuber.

Nos últimos 40 dias, Jair, Carlos, Eduardo e Flávio compartilharam conteúdos de Paim 17 vezes no Twitter. A média é de quase um endosso a cada dois dias, apenas em uma rede. Carlos é o campeão: dez menções. O ex-presidente somou três compartilhamentos, a exemplo de Eduardo Bolsonaro. Flávio Bolsonaro publicou uma vez o conteúdo de Kim Paim desde o início de junho.

Uma das estratégias de Carlos Bolsonaro é marcar o perfil de Kim Paim e propagar o vídeo diário como “telejornal”. “Fantástico telejornal do dia”, publicou o vereador no último dia 25. “Recomendo aos amigos”, escreveu em 11 de junho.

Para a PF, a escolha de “escoar o esgoto” e difundir dossiês ilegais da Abin paralela por meio de influenciadores digitais foi uma tática para distanciar os responsáveis do “núcleo político”, que inclui Carlos Bolsonaro. Assim, ainda segundo a Polícia Federal, Carlos e aliados se protegeriam de eventuais punições judiciais.

Um ex-auxiliar de Jair Bolsonaro afirmou à coluna em reserva que Paim era escolhido para espalhar conteúdos por ser “mais sofisticado” que outros militantes da direita. Como o canal de Kim Paim no YouTube é exclusivamente composto de bolsonaristas, o influenciador não vocaliza críticas ao ex-presidente. Esse ex-assessor descreveu assim o método de Paim: “Mistura informações verdadeiras e falsas para criar uma narrativa”.

Outra fonte desse entorno ouvida pela coluna apontou que Paim não apenas seguia ordens de políticos para atacar a oposição, mas atuava para minar personagens da própria direita que ofuscavam Carlos Bolsonaro, por exemplo. Essa pessoa ressaltou ainda que o fato de Paim estar fora do Brasil desde o início do governo Bolsonaro o livrou de ser alvo do STF. Os militantes Allan dos Santos e Oswaldo Eustáquio, por exemplo, deixaram o país após o avanço das investigações. A dupla está foragida e tem até hoje contas de redes sociais e bancárias bloqueadas, além de ordens de prisão em aberto assinadas pelo ministro do STF Alexandre de Moraes.

Nas eleições de 2022, Paim foi citado em um processo no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) movido pela coligação de Lula que buscava punir Bolsonaro por estimular um “ecossistema de desinformação” nas redes. O documento apontou que Kim Paim é um “ator estruturante no enquadramento narrativo e na difusão das pautas bolsonaristas” e usa em seus programas os perfis comentados nas redes por Carlos Bolsonaro.

“A operação que deixa mais evidente a coordenação da rede por parte de Carlos Bolsonaro é o programa de Kim Paim”, de acordo com a ação no TSE. Os advogados de Lula pediram que o tribunal ordenasse o bloqueio de contas nas redes sociais de dezenas de pessoas, inclusive de Kim Paim e Carlos Bolsonaro. O pedido foi negado.

Procurado, Kim Paim negou qualquer irregularidade, disse que nunca teve contato com os Bolsonaro ou políticos e que não divulga informações falsas. “Meus vídeos são feitos apenas de notícias que vou completando. Sou cuidadoso. Não arrecado dinheiro no chat dos vídeos, nem tenho Pix no Brasil. Eu sou crítico da turma da direita ‘pé na porta”, afirmou. Questionado sobre o “dossiê” que recebeu de Richards Pozzer, afirmou: “Ele me marcou no Twitter e só falei com ele aquela vez. Depois, teve a conta suspensa”.

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