Mourão articula candidatura ao Senado pelo menos desde abril de 2021
Após meses de negociação, atual vice-presidente da República bateu o martelo e deve se filiar ao Republicanos em 16 de março
atualizado
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Logo que o presidente Jair Bolsonaro (PL) começou a demonstrar sua insatisfação com Hamilton Mourão, o atual vice-presidente passou a articular sua candidatura ao Senado Federal pelo estado do Rio Grande do Sul.
Prestes a deixar o PRTB e se filiar ao Republicanos, o general do Exército começou a se reunir com parlamentares do futuro partido e do PP desde abril de 2021. É o que mostra levantamento do Metrópoles com base na agenda do vice-presidente.
A primeira vez que Hamilton Mourão se deu conta de que não seria escolhido para repetir a chapa de 2018 foi durante entrevista em 26 de abril de 2021. Questionado sobre o assunto, o militar disse que Bolsonaro deveria optar por outro nome para tentar a reeleição.
“Bolsonaro vai escolher outra pessoa para acompanhá-lo para a reeleição. O que tenho visto [nas] declarações de Bolsonaro é que ele precisaria de outra pessoa no meu lugar, mas ele nunca disse isso para mim”, afirmou Mourão ao jornal Valor Econômico na ocasião.
De acordo com registros oficiais da agenda de Mourão, uma semana após a declaração, em 5 de maio, o vice recebeu dirigentes do PRTB em seu gabinete, em Brasília. Por meia hora, Mourão se reuniu com o secretário-geral-nacional do partido, Levy Fidelix Filho, e o presidente da Comissão Executiva Provisória Regional do Rio de Janeiro, Antônio Carlos dos Santos.
Nas semanas seguintes, a negociação entre os três partidos ficou clara nos compromissos do militar. Em 18 de maio, Mourão recebeu dois políticos do PP, um do Piauí – o senador Elmano Férrer – e outro do Rio Grande do Sul – o vereador Tiago Israel Fabris. Esse último foi o pontapé inicial do vice-presidente em agendas com políticos de seu reduto eleitoral.
No mês seguinte, em 17 de junho, o general do Exército teve sua primeira reunião com o Republicanos. Na ocasião, encontrou-se com o deputado Carlos Gomes, do Rio Grande do Sul, e com a chefe de gabinete da liderança do partido, Tiana Maria da Silva.
Um dia depois, Mourão se reuniu, novamente, com dirigentes do PRTB. As negociações com o partido se estenderam pelos meses de julho, agosto e setembro, segundo os registros oficiais.
Em 22 de setembro, o vice-presidente voltou a se encontrar com políticos do PP e passou a direcionar as reuniões apenas para nomes do Rio Grande do Sul. Na data, ele recebeu o prefeito de Santa Rosa, Anderson Mantei, e o prefeito de Porto Mauá, Leocir Weiss. O deputado Bibo Nunes (PSL-RS) também participou da reunião.
Após os encontros, Mourão voltou a se reunir com integrantes do seu atual partido, PRTB. Foram registrados compromissos entre outubro do ano passado e janeiro deste ano. Foi quando o general passou a deixar claro aos dirigentes que sairia da legenda.
Nas últimas semanas, o vice-presidente voltou a se reunir com o Republicanos, com quem selou o seu futuro político rumo ao Senado. Ele esteve com o presidente do partido, Marcos Pereira (SP), e com o deputado Carlos Gomes, a exemplo de ocasiões passadas.
Filiação ao Republicanos
Hamilton Mourão deve deixar o PRTB, sigla pela qual compôs a chapa presidencial de Jair Bolsonaro, em 16 de março. O evento de filiação ao Republicanos será realizado na sede do partido, em Brasília.
A legenda informou que a chegada do general representa “uma honra” e “reforça o projeto de ampliação da força política do partido” nas eleições de outubro.
No início de fevereiro, o general confirmou que não repetiria a chapa de 2018 ao lado de Bolsonaro, que tentará a reeleição.
Para concorrer ao Senado neste ano, Mourão não precisa se desincompatibilizar do cargo de vice. De acordo com a lei eleitoral, no entanto, ele fica impedido de assumir a Presidência interinamente nos seis meses anteriores à eleição, que ocorrerá em outubro deste ano, como determina o protocolo para quando o presidente da República viaja ao exterior.
Nesse caso, o Planalto seria ocupado pelo presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), mas como o deputado deve buscar a reeleição, o próximo da linha sucessória é o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG). Caso o senador não possa assumir a Presidência da República, o comando do país fica a cargo do presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Luiz Fux.
Bolsonaro e Mourão
O presidente Jair Bolsonaro e o atual vice-presidente têm se afastado ao longo do governo. Em junho, Mourão chegou a dizer que “sente falta” de se reunir com o mandatário do país.
Em três anos de governo, o general e o capitão reformado do Exército têm tido várias posições diferentes — o que, segundo interlocutores, não tem agradado o chefe do Executivo.
Em abril do ano passado, quando Bolsonaro já dava os primeiros recados de que não iria dar continuidade à chapa em 2022, Hamilton Mourão disse que o chefe do Executivo deveria escolher outro nome, mas que Bolsonaro ainda não o havia procurado para tratar do assunto.
“Bolsonaro vai escolher outra pessoa para acompanhá-lo para a reeleição. O que tenho visto [nas] declarações de Bolsonaro é que ele precisaria de outra pessoa no meu lugar, mas ele nunca disse isso para mim”, pontuou à época.
Em uma das mais recentes declarações sobre o assunto, Bolsonaro afirmou que o novo vice não pode “atrapalhar”. Em outra oportunidade, o chefe do Executivo federal disse que “vice bom é aquele que não aparece”.
“A gente não está pensando em ter uma chapa para ganhar a eleição e depois não poder governar. Isso é horrível, isso é péssimo. Ter um vice que te atrapalhe. Isso é horrível”, afirmou o presidente no início do mês.
Agendas entre os dois diminuíram 85%
De acordo com um levantamento feito pelo Metrópoles, o descontentamento com o atual vice ficou evidente não apenas nas declarações do chefe do Executivo federal, mas também na agenda pública do presidente.
Os encontros entre Bolsonaro e Mourão diminuíram 85% desde o início do mandato, em 2019. Naquele ano, o presidente e o vice tiveram o maior número de reuniões durante o governo: foram oito agendas privadas e outras 27 conjuntas, com a presença de diferentes autoridades.
Em 2020, ano em que o presidente da República mais criticou seu vice e fez declarações no sentido contrário às de Mourão, houve registro de três agendas particulares entre os dois — número menor do que a metade dos encontros computados no ano anterior. Mourão participou de outras 18 agendas conjuntas, como reuniões ministeriais convocadas por Bolsonaro.
A quantidade de reuniões entre Bolsonaro e Mourão em 2021 foi menor ainda: os dois se encontraram em apenas cinco oportunidades, sendo duas agendas privadas e três conjuntas. Neste ano, Jair Bolsonaro também deixou evidente que deve escolher outro nome para disputar uma eventual reeleição à Presidência em 2022.