Ciro Nogueira tratava chefe do Cade, seu apadrinhado, de “meu menino”
Inquérito da Polícia Federal, divulgado pelo jornal Estado de S Paulo, investigava o atual ministro da Casa Civil
atualizado
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O inquérito da Polícia Federal (PF) que apontou indícios da prática dos crimes de corrupção e de lavagem de dinheiro pelo atual ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, mostra num trecho que ele trata um apadrinhado em posto-chave do governo como seu despachante pessoal.
Em uma conversa gravada em 2017, o hoje ministro, então senador, se refere a Alexandre Cordeiro, como “Meu menino” e diz: “Eu botei ele lá”. Cordeiro era seu chefe de gabinete. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.
Na época da conversa, Ciro Nogueira emplacou Alexandre Cordeiro na Superintendência-Geral do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). A nomeação foi feita pelo ex-presidente Michel Temer (MDB).
Cordeiro foi nomeado para virar presidente do órgão de fiscalização em julho de 2021, quando Jair Bolsonaro (PL) se aproximava de partidos do Centrão. Ciro teria colocado seu indicado no posto mais alto do Cade em troca de apoio do Progressistas, sigla que controla.
O Cade é um dos órgãos mais temidos pelos empresários. É lá que são investigadas as acusações de prática de cartel e são decididas fusões de empresas que envolvem bilhões.
Ainda de acordo com o Estadão, a conversa em que Ciro Nogueira fala sobre sua influência no Cade foi gravada pelo empresário Joesley Batista, do grupo J&F, no dia 17 de março de 2017, quando ele buscava provas para sua delação premiada. E só agora veio à tona.
O inquérito, concluído na semana passada, aponta que Ciro Nogueira cometeu crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Segundo a PF, ele recebeu R$ 5 milhões de propina da J&F em troca de apoio à reeleição de Dilma Rousseff (PT) em 2014, que interessava a Joesley. Na época, o PP (atual Progressistas) cumpriu o acordo. Em troca, Ciro Nogueira emplacou “seu menino” para conselheiro do Cade pela primeira vez.
Em nota, a defesa do ministro disse que a conclusão do inquérito é totalmente baseada em delações “que não são corroboradas com nenhuma prova externa” e que a narrativa “não se sustenta”.
De superintendente-geral a presidente
Cinco anos depois da conversa, Ciro Nogueira se tornou o ministro mais poderoso do governo Bolsonaro e Alexandre Cordeiro foi nomeado presidente do Cade.
Naquela conversa, Joesley se queixou de problemas no órgão. Em resposta, Ciro Nogueira disse ter um apadrinhado lá dentro. “Um cara de bom senso. Meu menino, ele era meu chefe de gabinete, eu botei ele lá (…) E ele conseguiu se entrosar lá”, afirmou. Joesley perguntou: “Como é que é. Alexandre o quê?” “Cordeiro”, responde o ministro.
Durante a conversa com Joesley, o ministro reforçou a preocupação em manter o controle do Cade. “É uma coisa que nós temos que, porque hoje nós temos a maioria lá, por isso que ele conseguiu (incompreensível)”, disse o ministro, conforme a PF. “Nós não podemos perder a maioria.”