Bolsonaro acusa Moraes de vazar dados do ajudante de ordens à imprensa
Gastos suspeitos da Presidência indicam pagamentos relacionados à primeira-dama. Em live, Bolsonaro reage a Moraes: “Esqueça a minha esposa”
atualizado
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O presidente Jair Bolsonaro (PL) atacou duramente, nesta terça-feira (27/9), o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), por ter autorizado, nas últimas semanas, quebra de sigilo bancário do tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens do chefe do Executivo federal. A decisão do ministro atendeu a um pedido da Polícia Federal, que encontrou no telefone do principal auxiliar do presidente mensagens que levantaram suspeitas sobre transações financeiras feitas no gabinete do presidente da República.
Durante transmissão ao vivo nas redes sociais, o titular do Palácio do Planalto disse que a quebra de sigilo é uma “covardia” e acusou Moraes de vazar a informação para o jornal Folha de S.Paulo, que revelou o caso com fontes na PF.
“Já está errado porque o Alexandre de Moraes vazou. Foi o Alexandre de Moraes quem vazou. Não vem com papinho de que foi a PF, não. Porque esse pessoal da PF, Alexandre de Moraes, come na tua mão. Então foi você que vazou”, ressaltou Bolsonaro.
O material analisado pela Polícia Federal indica que as movimentações financeiras se destinavam a pagar contas pessoais da família presidencial e também de pessoas próximas da primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
A investigação identificou pagamento fracionado para uma tia de Michelle, que cuida da filha do casal, Laura, de 11 anos, quando a primeira-dama está em compromissos ou em viagens. Realizações de depósitos fracionados e saques em espécie chamaram a atenção da polícia, que desconfia da tentativa de ocultar a procedência do dinheiro.
Nesta terça, a Secretaria de Comunicação da Presidência (Secom) negou irregularidade nas transações. Em nota à imprensa, alegou que o auxílio financeiro da primeira-dama à tia se dá “por questões de confiança pessoal e segurança”. Mas Bolsonaro não deixou de enviar recados a Moraes.
“Eu não vou adjetivar aqui, porque eu tenho vergonha de falar o adjetivo que merece o Alexandre de Moraes. Ele vaza para a imprensa para constranger a mim. Movimentação atípica. Olha, segundo eu sei, quem fala em movimentação atípica é o Coaf, e geralmente são movimentações acima de R$ 10 mil. O total [das transações feitas pelo Cid] deve dar R$ 12 mil. […] Alexandre, vou fazer um pedido para você: esqueça a minha esposa. Esqueça a minha esposa. Isso é comportamento de pessoas vis”, afirmou o presidente.
“Alexandre, você mexer comigo, é uma coisa. Você mexer com a minha esposa, você ultrapassou todos os limites, Alexandre de Moraes. Todos os limites. Tu tá pensando o que da vida? Que você pode tudo? E tudo bem? Você um dia vai dar uma canetada e me prender? Isso que passa pela tua cabeça? É uma covardia”, prosseguiu.
Veja o momento:
Bolsonaro acusa Alexandre de Moraes de vazar dados sobre operações financeiras do seu ajudante de ordens.
“Você um dia vai dar uma canetada e me prender?”, questionou o presidente em live.
“Alexandre, vou fazer um pedido pra você. Esqueça a minha esposa”, finalizou. pic.twitter.com/LgkNaEaQsk
— Metrópoles (@Metropoles) September 27, 2022
Entenda
Conversas por escrito, fotos e áudios trocados pelo tenente-coronel Mauro Cesar Barbosa Cid, ajudante de ordens, com outros funcionários da Presidência sugerem a existência de depósitos fracionados e saques em dinheiro. Há um inquérito policial analisando as transações sob suspeita, mas ainda não há acusação formal. A PF quer descobrir a origem do dinheiro e investigar se há uso de verba pública.
A quebra de sigilo bancário ocorre no âmbito do caso que apurava o vazamento de uma investigação sobre um hacker no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Moraes compartilhou a apuração, que agora tramita no inquérito das milícias digitais.
Nessa investigação sobre o vazamento do caso do ataque ao TSE, Cid virou alvo por ter atuado no episódio e teve o sigilo telemático (e-mails, arquivos de celular e nuvem de armazenamento) quebrado por ordem de Moraes. Na análise desse material, a PF se deparou com as movimentações financeiras que considerou suspeitas.
Em conversas por aplicativos de mensagens, integrantes da Ajudância de Ordens trocam recibos de saques e depósitos e abordam o pagamento de boletos.
A Ajudância de Ordens é uma estrutura que funciona dentro do gabinete pessoal de Bolsonaro e cujos servidores, em sua maioria militares, atuam diretamente no dia a dia do presidente. Ele é considerado um dos funcionários mais próximos de Bolsonaro no Palácio do Planalto.