Tarcísio, o moderado, quer a Rota governando SP
Com a politização da PM, governador prepara Derrite como seu sucessor
atualizado
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As notícias sobre o secretário de Segurança Pública estão se acumulando. Guilherme Derrite compra briga com Polícia Civil; violência policial aumenta no estado; Operação Verão, na Baixada Santista, é a mais sanguinária desde o massacre do Carandiru; ganhos de Derrite superam teto constitucional; Derrite enfraquece comandante-geral da PM; aumenta número de assessores PMs dentro do governo. Não importa o fato, a anuência de Tarcísio com seu secretário é irrestrita.
As especulações sobre as candidaturas presidenciais em 2026 têm Tarcísio como um dos protagonistas do campo da direita e extrema-direita – já que o mito do retrocesso está inelegível.
Michelle, Caiado e o governador de São Paulo, à espreita, vão tecendo apoios nos bastidores e nas redes sociais. Michelle tem a postura evangélica e o marido como base. Tarcísio, o comando do maior estado do Brasil. Melhor já ir construindo um sucessor?
Um dos pilares do bolsonarismo é a segurança pública, ou melhor, a violência que ameaça a vida de periféricos e policiais. Entre o fuzil e a inteligência, descarta-se a segunda. Em um estado conservador como SP, ungir um ex-PM, que foi investigado por participar de 16 homicídios em ações policiais e disse ser “vergonhoso”, agentes de segurança matarem menos de três pessoas em cinco anos de serviço, é uma catarse para parte do eleitorado. É mais um eco do custo que a impunidade da ditadura traz ao nosso sistema político.
Assim, ao que parece ser um projeto político pessoal do governador, o poder e influência de Derrite vão se esparramando lentamente. Ele integra os conselhos da Cetesb e do Metrô sem atuação comprovada nesses setores – e, junto com seu salário de deputado federal licenciado, garantirá vencimentos de cerca de 67 mil reais.
Seguindo a cartilha bolsonarista, Derrite impõe a presença de fardados dentro da máquina pública. São cerca de 241 assessores pms no governo. Segundo a Folha de São Paulo, 588 dos 645 municípios do estado (o equivalente a 91%) contam com menos agentes da corporação do que a secretaria.
O número de pessoas mortas por policiais militares em serviço no estado mais que dobrou no primeiro trimestre de 2024. Foram 179 casos nos primeiros três meses deste ano, contra 75 no mesmo período do ano passado —um crescimento de 138%. A operação Verão vem deixando um rastro de sangue na Baixada Santista. Como Tarcísio respondeu às críticas a seu subordinado? Tô nem aí.
Tarcísio pode até posar de moderado na relação com o governo federal, na defesa do liberalismo econômico tupiniquim (que depende do Estado) e em distanciamentos oportunos de Bolsonaro. Mas enxerga a tradição de apoio à violência de parte do eleitorado paulista representada pelo malufismo no período pós-ditadura.
“Hoje, o policial teme enfrentar bandidos porque pode acabar preso. No meu governo, o soldado terá orgulho de usar farda. Caso reaja a uma agressão em legítima defesa, não será nem mesmo processado”. A frase antiga de Maluf seria slogan de campanha de Derrite numa possível sucessão de Tarcísio.