SP: Boulos enfrenta estigma e Nunes tem denúncias para explicar
Os desafios de cada campanha estão sobre a mesa
atualizado
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Favoritos na eleição da capital paulista, Ricardo Nunes (PL) e Guilherme Boulos (Psol) têm fraquezas explícitas em suas imagens para enfrentar nos próximos meses. E ao que parece, até o momento, suas campanhas não definiram qual a melhor estratégia para diminuir rejeições e vencer a disputa.
Apesar de todos os acenos moderados e o bom resultado da eleição passada, quando o candidato do Psol chegou ao segundo turno e perdeu por grande margem para Bruno Covas, pesa em Boulos a imagem de radical para os eleitores moderados e conservadores. E a polarização e as fake news vão saborear sua liderança nos movimentos de moradia.
Sua atuação na Câmara – foi o deputado mais votado por São Paulo – não teve grande destaque. Foram 504 projetos apresentados, mas apenas 2 aprovados. O primeiro mudou as regras do empréstimo consignado e o segundo criou o mês dos combate às desigualdades. Fez 97 discursos.
Entretanto, Lula deve ser o fator crucial para sua eleição. A imagem e o desempenho de seu principal cabo eleitoral vão definir o humor dos paulistanos. Esqueça-se a vitória de Lula contra Bolsonaro na capital. Isso é passado. A fotografia atual é que a reprovação a Lula subiu 9 pontos segundo Datafolha.
O único movimento de sua campanha é mudar o tom e parar de assumir os rótulos que desagradam aos conservadores. A estratégia era ironizar radicalismos ou invasor de prédios. A tentativa agora é divulgar propostas para a cidade e criticar os adversários. E tentar aproveitar o que restou da popularidade de Marta Suplicy.
Ricardo Nunes conseguiu vencer um grande adversário: ser um desconhecido para a maioria da população. Há poucos meses ninguém sabia o nome do prefeito, tampouco alguma realização. Era uma prefeitura sem marca. Com muitas críticas à zeladoria, Nunes aproveitou o caixa gordo para recapear ruas por toda a cidade.
Porém, não foi o sucesso da empreitada que tornou-o um personagem conhecido, mas as denúncias de corrupção. A maioria desses contratos foram feitos em regime de urgência e sem licitação. Dos 307 contratos, 223 têm indícios de combinação de preços entre as empresas concorrentes, segundo o TCM. Os gastos passam dos 4 bilhões de reais.
A investigação da polícia da relação do PCC com empresas de ônibus da capital deve respingar na atual prefeitura, assim como os problemas causados pela Enel, que deixa muitos moradores sem luz com frequência.
A resposta de Nunes é sempre tímida. Não se apresentou como solução do problema nem respondeu às denúncias com alarde e convicção. Mantém a imagem de um fantasma no comando da maior cidade do país. Apesar de sua proximidade com o bolsonarismo, a escolha de seu vice será importante para demarcar em qual território da direita irá transitar.
Na última pesquisa do Datafolha, realizada em 11 de março, Boulos e Nunes estavam empatados tecnicamente. Alguns sinais. Boulos tem boa vantagem entre os mais jovens (31% a 13% entre 16 a 24 anos) e Nunes se alicerça entre os mais velhos (33% para o prefeito, contra 26% para Boulos entre 45 a 59 anos). Boulos vence entre os mais ricos e os dos candidatos empatam entre os mais pobres. A mesma lógica se repete entre os níveis de escolaridade.
Os desafios da duas campanhas estão sobre a mesa. Boulos torcerá por Lula enquanto tentará mostrar propostas viáveis aos eleitores. Nunes terá que provar alguma marca de seu mandato, apostar no lado direito da polarização e torcer contra o presidente.