Zambelli e a fértil imaginação de quem Bolsonaro quer distância
Conto da carochinha
atualizado
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Eis a história que a deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) contou ontem à Polícia Federal. Sim, ela contratou o hacker Walter Delgatti Neto, mas não foi para que ele inserisse dados falsos no sistema do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) ou grampeasse o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal.
Segundo Zambelli, foi só para que Delgatti executasse serviços de informática, como a criação de sites. Essa nunca foi a especialidade dele. E para criar sites tem farta mão de obra disponível por aí. Delgatti ficou famoso por ter hackeado as conversas entre os procuradores da Lava-Jato e o então juiz Sergio Moro.
Zambelli disse que pagou 3 mil reais em novembro do ano passado a uma empresa de mídia que subcontratou Delgatti. Já o pagamento de 10,5 mil reais feito por Renan, assessor dela, a Delgatti, foi apenas uma transação de uísque entre Renan e Delgatti, sabe como é… Zambelli diz ter como provar.
No início de agosto último, Zambelli foi alvo de uma operação policial de busca e apreensão em seu apartamento funcional, em Brasília, e no seu gabinete na Câmara. Na mesma ocasião, Delgatti foi preso e confessou ter invadido o sistema do CNJ e incluído uma ordem de prisão contra Alexandre de Moraes.
Delgatti disse que Zambelli, em encontro na Rodovia dos Bandeirantes, na capital paulista, em setembro de 2022, pediu-lhe que invadisse as contas de e-mail e de telefone de Moraes. Delgatti acessou o e-mail, mas nada encontrou de comprometedor. Tentou invadir o sistema das urnas eletrônicas, sem sucesso.
Àquela altura, faltava pouco mais de um mês para as eleições. Zambelli levou Delgatti a um encontro com o presidente do PL, Valdemar Costa, na sede do partido, e a outro com Bolsonaro no Palácio da Alvorada. Bolsonaro admite que mandou Delgatti se reunir com militares no Ministério da Defesa. Para quê?
Bolsonaro não diz. O Exército mantém segredo sobre a identidade dos militares que se reuniram com Delgatti. Tudo está sendo apurado pela Polícia Federal. Bolsonaro culpa Zambelli por sua derrota. No sábado 29 de outubro de 2022, na capital paulista, ela sacou uma arma e correu atrás de um homem negro.
Foi um espetáculo ver aquela mulher magrinha, aparentemente tão frágil, a correr com uma arma na mão pelo meio da rua, no bairro chique dos Jardins, atrás de um homem que a teria desacatado; um espetáculo, mas também um escândalo. Zambelli mentiu, para variar. O homem, eleitor do PDT, não mexeu com ela.
Seis dias antes, o ex-deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), aliado de Bolsonaro, havia disparado mais de 50 tiros contra agentes federais que foram prendê-lo, além de jogar granadas. Jefferson está preso até hoje. Zambelli segue leve e impune, dando asas à sua fértil imaginação. Bolsonaro só quer vê-la pelas costas.