Yago, 21 anos, negro e pobre, estava na hora errada no lugar errado
Foi comprar pão, e a polícia chegou
atualizado
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“Houve um erro”, reconheceu o delegado assistente da 19ª Delegacia de Polícia da Praça da Bandeira, no Rio, Marcelo José Borba Carregosa. Yago Corrêa de Souza, 21 anos, negro, pobre e favelado, preso sob a suspeita de ligação com o tráfego de drogas, simplesmente “estava na hora errada e no lugar errado”.
Morador da favela do Jacarezinho, Yago foi a uma padaria comprar pães. Vestia bermuda jeans e camisa do Flamengo. Comprou 7 pães. À saída, viu chegar uma tropa da polícia. Correu e refugiou-se numa farmácia. Dali a instantes foi preso por um policial que lhe apontou um fuzil. Ficou dois dias encarcerado.
O juiz Antônio Luiz da Fonseca Lucchese, durante a audiência de custódia, entendeu não haver provas suficientes para manter Yago preso. No entanto, ele ainda responderá a processo. “Esses foram os piores dias da minha vida. Isso aqui é um inferno”, disse Yago ao deixar a Cadeia Pública José Frederico Marques, em Benfica.
“Não sou bandido, sou morador. Lá dentro era só desespero.” Seu advogado, Vivaldo Lúcio da Silva Neto, comentou com jornalistas: “Yago é um jovem negro que está acostumado a passar por incursões da polícia, mas não a passar por um cárcere desses, uma masmorra dessas. Peço a vocês que deixem o menino respirar”.
Os pães eram para um churrasco da família. Foram confiscados pelos policiais. Aos que desconfiam de Yago por ter corrido, pergunto: quem neste país, negro, pobre e favelado não tenta fugir à chegada de policiais carregando fuzis? Fosse branco, de olhos claros e estivesse bem vestido talvez não precisasse fugir. Talvez.
Das pessoas que morrem de forma violenta no Brasil, 68% são negros. Dentre os presos, 61% têm a pele de cor preta ou parda. A maioria está encarcerada por pequenos crimes, muitas vezes sem julgamento. Em 2020, a proporção de negros nas prisões crescera 14% em 15 anos, enquanto a de brancos caíra 19%.
A carne mais barata do mercado é a carne negra, cantou Elza Soares.