Voto eletrônico é a vacina contra o golpe que Bolsonaro planeja
Para quem acha que o Centrão jamais abandonará o governo, a rejeição de uma parte dele ao voto impresso prova que não é bem assim
atualizado
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Foi o elegante PSDB, partido de supostos bons modos, quem abriu passagem para a extemporânea ideia de ressuscitar-se o voto em cédula, depois de mais de 20 anos de funcionamento exemplar do voto eletrônico. E, dentro do PSDB, o deputado Aécio Neves (MG).
Por pouco, na eleição de 2014, não deu Aécio na cabeça – foi derrotado pela então presidente Dilma Rousseff (PT), que se reelegeu. O que ele fez, então, com o apoio aberto ou velado dos seus colegas de partido? Pediu a recontagem dos votos.
Fê-lo porque queria impedir Dilma de governar, e assim contribuiu para sua queda. A Justiça Eleitoral não encontrou sequer indícios de fraude. Aécio perdeu por um motivo simples: teve menos votos até no seu estado, no primeiro e no segundo turno.
O presidente Jair Bolsonaro diz que houve fraude na eleição perdida por Aécio, e na sua, quando se elegeu em 2018. No seu caso, para evitar que ele se elegesse no primeiro turno. Afirma que tem provas. O Supremo Tribunal Federal intimou-o a mostrá-las.
Nada impedirá Bolsonaro de continuar dizendo que o voto em cédula é mais seguro, porque sua intenção é preparar o espírito dos devotos para uma eventual derrota na eleição do ano que vem, e concitá-los desde já a não aceitarem o resultado.
Animados por ele, armados por ele, que afrouxou as regras para a compra de revólveres e fuzis, e com fé no apoio de milícias particulares e de facções das Polícias Militares, quem sabe turbas enfurecidas não criarão um clima propício ao golpe?
Onze partidos, muitos deles do Centrão, já avisaram a Bolsonaro que seu projeto de golpe não será bem-sucedido se depender deles. Não passará pela Câmara dos Deputados a proposta de restabelecer o voto em cédula. Se passar, não passará pelo Senado.
Do alto comando das Forças Armadas, Bolsonaro recebeu sinais de que os resultados das próximas eleições serão respeitados, sejam quais forem, doem em quem doer. Bolsonaro não está nem aí. Se perder, no mínimo sairá com a desculpa de que foi roubado.
Em tempo: Aécio é a favor do voto impresso e contra o PSDB ter candidato próprio à sucessão de Bolsonaro.