Vírus da anarquia militar ganha passe livre nos quartéis
Liberou geral. Se general pode mandar às favas o Regimento Disciplinar do Exército, por que soldados e cabos não podem?
atualizado
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Haverá alguma reação militar à decisão do general Paulo Sérgio Nogueira, comandante do Exército, de arquivar o procedimento administrativo instaurado contra seu colega Eduardo Pazuello, que participou no Rio de manifestação político-partidária ao lado do presidente Jair Bolsonaro?
Improvável. Nogueira poderia ter punido Pazuello com uma advertência oral, ou por escrito, ou com até 30 dias de prisão como previsto no código do Exército. A maioria dos generais do Estado Maior do Exército defendeu uma dura advertência por escrito. Nogueira escolheu a pior alternativa: não fazer nada.
Bolsonaro enquadrou o Comandante do Exército. A partir de agora, e com razão, poderá chamar o Exército de “meu Exército”. E exigir que os militares graduados só se refiram a ele como “o Comandante Supremo das Forças Armadas”. Pazuello ganhou uma nova sinecura no governo. Nogueira desmoralizou sua Arma.
Haverá choro e ranger de dentes entre generais da ativa e da reserva, mas por enquanto apenas isso. Embora tenha ouvido seus pares pelo menos três vezes desde que Pazuello rasgou o Regimento Disciplinar do Exército, cabia a Nogueira, e somente a ele, a palavra final. Na prática, a palavra final foi de Bolsonaro.
O vírus da anarquia militar ganhou passe livre para circular dentro dos quartéis. Se um general da ativa pode ignorar o que está escrito no Regimento Disciplinar do Exército, se o Comandante do Exército pode ignorar a transgressão cometida por um general, por que soldados, cabos e demais escalões não podem?
Eles também são filhos de Deus – ou do diabo.