VINTE ANOS – Anistia perdoou crimes, mas não apaga a memória deles
Esquecer, nunca mais
atualizado
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A Câmara dos Deputados resolveu desenterrar os arquivos da tortura da ditadura militar inaugurada em 1964 e extinta em 1985.
Para isso, a Comissão de Direitos Humanos criou uma subcomissão que investigará documentos em poder de órgãos federais.
Por mais de sete anos, a Comissão pouco ligou para caixas e mais caixas de documentos de onde repórteres do Correio Braziliense extraíram na semana passada supostas fotografias do jornalista Vladimir Herzog, nu e humilhado pouco antes de morrer.
O governo Lula, o PT e seus aliados no Congresso fingem que se interessam pelo drama das famílias dos mortos e desaparecidos.
Contra toda a esperança, as famílias teimam em acreditar que algo será feito para cicatrizar suas feridas.
Os chefes militares argentinos admitiram as atrocidades cometidas por seus antecessores durante a feroz ditadura que fez desaparecer mais de 20 mil pessoas.
Ao procederem assim, livraram a cara da maioria deles mesmos que nada teve a ver com o que se passou. E jogaram toneladas de terra sobre um passado nefasto.
Aqui, não. Os militares não só se recusam a confessar os crimes dos seus antigos pares como ainda hoje são capazes de justificá-los.
Enquanto entenderem em causa própria que a Lei da Anistia passou uma borracha no passado, continuarão sendo assombrados por fantasmas que se recusam a desaparecer de vez.
A Lei da Anistia, de fato, perdoou todos os crimes – mas não apagou a memória deles.
(Publicado aqui em 21 de outubro de 2004)