Vida longa para Bolsonaro, que tem muitas contas ainda a acertar
A exploração política da enfermidade do presidente da República somente a ele serve
atualizado
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Não foi Adélio Bispo que fez como os bolsonaristas apregoam. Foi o presidente Jair Bolsonaro que fez por onde chegar às vésperas de uma possível sétima cirurgia desde a facada que levou em Juiz de Fora no dia 6 de setembro de 2018.
Seu médico, Antônio Luiz de Macedo, disse uma vez que ele era “um homem impetuoso”. Foi a maneira elegante e delicada que encontrou para sugerir que Bolsonaro não cuida da própria saúde como deveria. Ele sempre se considerou um atleta.
Quando servia no Exército, destacava-se por chegar sempre na frente em corridas de curta distância. Daí o seu apelido, à época, de Cavalão. A facada pode tê-lo ajudado a se eleger presidente, mas nem por isso 0 tornou mais cuidadoso com a saúde.
Na última terça-feira, dia 13, no fim do expediente, comia um waffle atrás do outro e bebia Coca-Cola, apesar da crise de soluço que há mais de uma semana o impedia de falar direito e de dormir. Não suspendeu o leite condensado aplicado a qualquer alimento.
Foi Bolsonaro que, em abril passado, anunciou para um grupo de devotos nos jardins do Palácio da Alvorada:
“Talvez, neste ano, mais umazinha (cirurgia). Mas é tranquilo, de hérnia. Eu tenho uma tela aqui na frente. Está saindo o bucho pelo lado. Então, tenho que colocar uma tela do lado também”.
Protelou a cirurgia o quanto pôde. Viajou, ontem, às pressas para São Paulo. Antes, deu ordem para ser fotografado nu da cintura para cima e sua imagem exposta nas redes sociais.
Em seu nome, o filho Carlos, o Zero Dois, escreveu nas redes uma série de quatro mensagens, todas tentando extrair vantagens políticas do sofrimento do pai. A gigolagem da facada não parou mais desde então. Adélio voltou à cena para não sair tão cedo.
Que país é este onde tanta gente duvida das condições de um presidente da República claramente enfermo que poderá ter que ser operado a qualquer momento? Ninguém duvidou da enfermidade que matou o presidente Tancredo Neves em 1985.
Só o próprio Tancredo, que escondeu a doença, duvidou que precisasse ser operado de emergência a poucas horas da posse. E por mais que se agravasse seu estado de saúde, o país não só rezava por ele como acreditava em sua recuperação.
Boris Johnson, o primeiro-ministro do Reino Unido, enfrentava uma rejeição recorde quando a Covid o mandou para um hospital. Recebeu alta com a popularidade nas alturas. Meses depois, sua rejeição voltou ao patamar que estava antes de ficar doente.
Bolsonaro plantou nos seus primeiros 30 meses de governo a semente do seu próprio descrédito ao negar o que era visto pela maioria dos brasileiros e afirmar o que não podia provar. Agora, colhe os frutos de sua absoluta falta de escrúpulos.
O país já tem seus mártires, clama apenas por bons governantes. Não é o caso de Bolsonaro. Mesmo assim, qualquer pessoa merece viver enquanto puder. Por mais que Bolsonaro não valorize a vida dos outros, vida longa para ele! Tem muitas contas a acertar aqui.