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Um general confuso no seu labirinto e um Bolsonaro à moda Zelensky

Jogaram, perderam e agora terão que engolir Lula

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Jair Bolsonaro em vídeo gravado a apoiadores
1 de 1 Jair Bolsonaro em vídeo gravado a apoiadores - Foto: Reprodução/Redes sociais

Esperto, o general Hamilton Mourão, vice-presidente da República em final de carreira. Maltratado por Bolsonaro, afastou-se dele e foi para o Rio Grande do Sul, seu estado, elegendo-se senador.

Tosco, o general Mourão. Passou a falar que a imprensa tem que “acordar para o fato de que” dos 156 milhões de brasileiros aptos a votar este ano, 96 milhões não votaram em Lula.

O que quer dizer com isso? Que o mandato de Lula é menos legítimo? Ora, dos 147,3 milhões de eleitores aptos a votar em 2018, 89 milhões (ou seja: 61,8%) não votaram em Bolsonaro.

Há quatro anos, pois, Bolsonaro elegeu-se com 39,2% do total de votos. Mourão não deve ter feito essa conta. E se fez, escondeu-a. Vence quem alcançar 50% mais um dos votos válidos, diz a lei.

Em 1955, Juscelino Kubitschek (PSD) foi eleito presidente, juntamente com o vice João Goulart. As eleições para presidente e vice eram separadas. Goulart recebeu mais votos que Juscelino.

Carlos Lacerda (UDN), líder da oposição, tentou impedir a posse de Juscelino alegando que ele só obteve 36% do total de votos. Parte dos militares ficou ao lado de Lacerda. Não houve golpe.

Lula é o próximo presidente do Brasil simplesmente por ter tido mais votos que Bolsonaro. Para ser exato: 2.139.645 votos a mais, quase o equivalente à população de Manaus.

Se os dois tivessem empatado, Lula estaria eleito. Em caso de empate, segundo a lei, a vitória é do mais velho. Você acha isso um absurdo? Pressione o Congresso a mudar a lei.

Se você acha que quem teve mais votos não necessariamente deve se eleger, pressione o Congresso a mudar a Constituição. Se você acha que a Constituição pode ser ignorada… Bem, aí complica.

De volta a Mourão:

“Nós concordamos em participar de um jogo que o outro jogador não deveria jogar. Se concordamos, não há mais o que reclamar. Não adianta chorar. Perdemos o jogo”.

Por que Lula não poderia participar do jogo se o Supremo Tribunal Federal decidiu que podia? E o que Bolsonaro deveria ter feito? Recusar-se a jogar? Foi uma boa ideia que ele não teve.

Ou Bolsonaro não deveria ter aceitado a decisão do Supremo? O que ele faria então? Fecharia o Supremo? Seu filho, Eduardo, sempre defendeu que seria muito fácil fechar o Supremo.

Mourão acha que os protestos de agora deveriam ter sido realizados “quando o jogador [Lula] foi autorizado a jogar; ali, deveriam ter ido para a rua, buzinar, mas não fizeram”.

É uma crítica a Bolsonaro que, à época, não mandou seus devotos protestar nas ruas? Ou é uma crítica aos bolsonaristas que aceitaram a ideia de jogar o jogo por que acreditaram na vitória?

“Não considero que houve fraude”, confessa Mourão, “mas um jogador não deveria ter jogado”. General: vá se queixar com os ministros do Supremo ou com o jogador que insistiu em jogar.

Perguntado se dialogará com Lula se for convidado, Mourão responde sem hesitar: “Lógico”. A essa altura, qual político não quer dialogar com Lula? Talvez Zambelli, a pistoleira dos Jardins.

Bolsonaro, que apareceu, ontem, vestido à moda Volodymyr Zelensky, presidente da Ucrânia (camiseta azul escuro, cabelinho cortado), já perdeu todos os aliados políticos que tinha.

Restam-lhe parte dos caminhoneiros financiados pela ala menos pop do agro, a nova geração das viúvas de Lacerda, os siderados que marcham diante de quartéis e os admiradores de Hitler.

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