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Trump, que elogiou Putin, troca de lado. Bolsonaro fica onde estava

A Constituição brasileira não abre espaço para que se tente legitimar a invasão da Ucrânia pela Rússia

atualizado

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Chip Somodevilla/Getty Images
Presidente trump durante pronunciamento
1 de 1 Presidente trump durante pronunciamento - Foto: Chip Somodevilla/Getty Images

O homem que às vésperas da invasão da Ucrânia pela Rússia disse que Vladimir Putin era “um gênio” e “muito esperto” recuou ao concluir que só tinha a perder. O presidente Jair Bolsonaro, que nunca teve compromisso com o que diz e faz, por ora ainda hesita em mudar de lado. É por isso que Donald Trump tem chances de se reeleger presidente dos Estados Unidos daqui a dois anos, e Bolsonaro teme ser derrotado daqui a oito meses.

O ex-presidente Juscelino Kubistchek dizia não ter compromisso com o erro. Bolsonaro tem compromisso com o erro. Embora tenha se rendido à compra de vacinas contra a Covid-19, por exemplo, ele insiste em receitar cloroquina e outras drogas ineficazes para o tratamento da doença. Sob forte pressão, mandou que seu embaixador na ONU condenasse a invasão da Ucrânia, mas ele que se solidarizou com a Rússia não condenou.

Bolsonaro nada aprende e nada esquece. Quando o vírus apareceu na China, negou-se a resgatar brasileiros que queriam sair às pressas de lá. Pegou tão mal que mais tarde autorizou a FAB a resgatá-los. No caso da Ucrânia, seu governo anunciou que não haveria operação-resgate. Agora diz que haverá, sim, só não se sabe a partir de quando. Antes da invasão, países ocidentais orientaram seus cidadãos a saírem da Ucrânia. O Brasil, não.

De ninguém se espere o que ele não pode dar. Esperar que Bolsonaro deixe de ser o que sempre foi pode servir para que o Centrão o apoie e extraia até o fim todas as vantagens decorrentes disso, mas para nada mais servirá. O governo Putin proibiu a imprensa russa de usar as expressões “ataque”, “invasão” e “guerra” em notícias sobre o conflito na Ucrânia. Bolsonaro não perdeu a oportunidade de outra vez atacar a imprensa brasileira.

“Infelizmente, mesmo em um momento sensível, em que estão em jogo vidas humanas, princípios inegociáveis das relações internacionais e recursos importantes para a vida dos brasileiros, parte da imprensa insiste em gerar ruído e em desinformar os brasileiros em troca de cliques”, disse ele. Então, acusou-a de faltar com a verdade em hora tão grave como essa. Não explicou, porém, como ela está faltando com a verdade, e por que.

A verdade é simples: o governo Bolsonaro levou três dias para decidir se cumpriria ou não o que está escrito no artigo 4º da Constituição em vigor. Diz-se, ali, que a República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos princípios da prevalência dos direitos humanos; autodeterminação dos povos; não-intervenção; defesa da paz; solução pacífica dos conflitos e cooperação entre os povos para o bem da humanidade.

Ou seja: a Constituição brasileira não abre espaço para que se tente legitimar a invasão da Ucrânia pela Rússia. Ponto.

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