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Tic, tac, tic, tac, bate o relógio da Justiça contra Bolsonaro

Quem tem prazo não tem pressa. É o caso do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal

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1 de 1 Imagem de pessoa adiando despertador - Foto: Getty Images

De vez em quando, os relógios do governo, Congresso e Supremo Tribunal Federal marcam a mesma hora. Na maioria das vezes, porém, o tempo corre mais devagar no relógio do Supremo, e mais rapidamente no do Congresso se comparado com o do governo.

Acidentalmente eleito presidente, o ex-capitão Jair Bolsonaro não estava pronto para governar, sequer para entender os pormenores do exercício do poder. Sua formação militar o impedia. Seus quase 30 anos na Câmara como deputado foram desperdiçados.

Por falta de sorte ou castigo, viu-se ameaçado pelo escândalo da rachadinha antes de assumir o cargo. Seu filho Flávio, o Zero Um, não é o único que corre perigo, embora protegido pelo mandato de senador. Carlos, o Zero Dois, e o próprio Bolsonaro correm.

Vem daí a agonia de Bolsonaro que não chegará ao fim nem quando terminar o seu mandato, tomara que em janeiro próximo. Só então ele se dará conta da falta de sincronia entre os relógios dos três Poderes da República, e o mal que isso poderá lhe causar.

Com base em um relatório da Polícia Federal, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, mandou que Bolsonaro fosse ouvido sobre o vazamento de um inquérito sigiloso. Foi ele que vazou em uma de suas aparições semanais no Facebook.

Configura crime vazar informações mantidas em segredo de Justiça. Eram sobre um ataque de hackers ao sistema de votação eletrônica. Bolsonaro vazou-as para desacreditar a segurança no sistema e em campanha pela volta do voto impresso

Era para defender-se que deveria ter ido depor. Ao recusar-se, com medo de ser filmado pela imprensa, Bolsonaro desrespeita ordem judicial. O mais provável é que nada lhe aconteça por enquanto. Mas o tempo no relógio da Justiça passa lentamente.

Um presidente da República pode, no máximo, desfrutar de impunidade por oito anos consecutivos, a soma de dois mandatos. Ministro do Supremo pode ficar por lá até completar 75 anos de idade. Faltam 22 anos para que Alexandre se aposente.

Em setembro, ele assumirá a presidência do Tribunal Superior Eleitoral e comandará as eleições do mês seguinte. Não só: por ele passarão todas as ações que questionem mais tarde o comportamento dos candidatos e o resultado das eleições.

Como ministro do Supremo, Alexandre preside dois inquéritos que tiram o sono de Bolsonaro e dos seus filhos: um sobre a produção e distribuição de notícias falsas; o outro, sobre o financiamento de manifestações públicas hostis à democracia.

Hoje, Bolsonaro dispõe do gigantesco aparato jurídico da Presidência para sair em seu socorro. Sem mandato, despesas com advogados serão pagas por ele. Por maior que seja sua fortuna construída sabe-se lá como, ela não será suficiente.

Tic, tac, tic, tac, tic, tac, bate o relógio da Justiça.

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