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Tarcísio, um governador extremamente satisfeito com 14 mortes

Mortes de inocentes não passam de “danos colaterais”

atualizado

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Divulgação/Governo de São Paulo
Homem branco de cabelo grisalho segura microfone em frente às bandeiras do Brasil e de São Paulo
1 de 1 Homem branco de cabelo grisalho segura microfone em frente às bandeiras do Brasil e de São Paulo - Foto: Divulgação/Governo de São Paulo

Você ficaria “extremamente satisfeito” se seu filho se formasse como primeiro da turma. E não consideraria “um excesso” se para isso ele atravessasse noites insones, a estudar. Era assim no meu tempo para quem pretendia ser aprovado no vestibular.

Dei sorte, estudei pouco, mas tirei nota máxima no quesito redação da prova de português, 10 na prova de história do Brasil, onde o forte eram perguntas sobre a invasão do país pelos holandeses, e eu havia pouco antes feito uma reportagem sobre o assunto.

Não lembro quanto tirei nas provas de história geral, geografia e francês. Mas lembro que a primeira foi sobre a 2ª Guerra Mundial (leio tudo a respeito até hoje). Fui um bom aluno de geografia e francês. Para minha surpresa, passei em segundo lugar.

O capitão e atual governador Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP) formou-se em engenharia civil pelo Instituto Militar de Engenharia, tendo obtido a maior média histórica no curso da instituição.  Isso deve tê-lo deixado “extremamente satisfeito”.

É de supor, porém, que não se destacou na área de ciências humanas. Do contrário, jamais diria ter ficado “extremamente satisfeito” com as 14 mortes provocadas pela Polícia Militar de São Paulo ao invadir por vingança uma favela no Guarujá.

Jamais diria também que o número de mortes não configura um “excesso”, e que as mortes foram “danos colaterais”, de vez que era preciso combater os traficantes de drogas. Em que lugar do mundo matar traficantes acabou com o comércio ilegal de drogas?

Traficantes não costumam enfrentar a polícia – tentam fugir para voltar quando ela vai embora. Se não voltam, se estabelecem em outras áreas. O Rio de Janeiro, onde Tarcísio nasceu, tem áreas permanentemente ocupadas por facções criminosas.

São Paulo, não. Guarujá fica pertinho de Santos, uma das cidades mais seguras e tranquilas do país. Em Santos, fica o maior porto do Brasil. É isso o que importa aos traficantes: eles querem paz para contrabandear drogas nos navios que saem de Santos.

Eleito governador do Rio em 2018 prometendo combater a corrupção e o tráfico de drogas, o ex-juiz Wilson Witzel (PSC) autorizou o abate de bandidos que usavam fuzis:

“A polícia vai fazer o correto: vai mirar na cabecinha e… fogo… Para não ter erro”.

À época, o Rio registrava 16 assassinatos por dia. A política de Witzel adiantou? Coisa alguma. Acusado de corrupção, ele se tornou o primeiro governador a ser afastado definitivamente do cargo por processo de impeachment na história do Brasil.

Tarcísio é mais um líder político a apelar para o discurso mentiroso de que são inimigos da polícia os que condenam a matança de inocentes geralmente pobres, negros e moradores de favelas. Quem mais consome drogas é quem pode pagar por elas.

Tarcísio paga o preço de nunca ter morado em São Paulo e de nunca ter disputado eleição nem para síndico de prédio. Elegeu-se governador graças a Bolsonaro. Quer herdar os votos dele para se reeleger e, mais tarde, candidatar-se a presidente.

Se necessário, um dia ainda poderá dizer que bandido bom é bandido morto.

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