metropoles.com

Tarcísio, bolsonarista, com uma tinturazinha de direita civilizada

Histórias que os livros não contam

atualizado

Compartilhar notícia

Google News - Metrópoles
Divulgação/ Sergio Barzaghi/ Governo de SP
tarcisio freitas jair bolsonaro
1 de 1 tarcisio freitas jair bolsonaro - Foto: Divulgação/ Sergio Barzaghi/ Governo de SP

Depois que a anistia de 1979 permitiu a volta dos políticos exilados ou banidos do país pela ditadura militar de 64, Zadock Castelo Branco, jornalista pernambucano, era o único de nós que ousava demonstrar intimidade com Miguel Arraes.

Quando o encontrava em algum lugar no Recife, batia de leve em sua barriga e repetia a mesma saudação:

“Como vai esse pessedista velho, com uma tinturazinha marxista?”

O PSD foi um partido conservador criado por Getúlio Vargas e conciliador por excelência. Os militares prenderam Arraes em 1º de abril de 64 por tê-lo como um perigoso comunista.

Três vezes governador de Pernambuco, ele era tratado por amigos e desafetos como “doutor Arraes”. Os pobres, seus eleitores agradecidos e fiéis, o chamavam de “Pai Arraia”.

Entre uma baforada e outra do seu inseparável charuto, ou entre um gole e outro de uísque, Arraes achava graça do comentário de Zadock e o abraçava com carinho.

Lembrei-me dessa história depois que li a notícia de que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, decidiu militarizar cem escolas estaduais.

A partir de 2025, policiais militares da reserva passarão a atuar como monitores e gestores em instituições de ensino. O sistema de ensino paulista tem cerca de 5.000 escolas.

Com Tarcísio, que deve sua eleição a Bolsonaro, a quem serviu como ministro, a Polícia Militar de São Paulo passou a matar livremente sem ter que dar satisfação a ninguém.

No primeiro trimestre de 2024, o número de mortes por ação policial aumentou de 75 para 179, 180% a mais do que no primeiro trimestre de 2023. O que disse Tarcísio a respeito:

O pessoal pode ir na ONU, na Liga da Justiça ou no raio que o parta, que eu não estou nem aí”.

Se vivo fosse (morreu em 2016 com 74 anos de idade), o que diria Zadock caso conhecesse Tarcísio e ousasse abordá-lo da mesma maneira como abordava Arraes? Talvez dissesse:

“Como vai esse militar bolsonarista velho, com uma tinturazinha de direita civilizada?”

Em 1985, com a morte de Tancredo Neves, o presidente que não tomou posse, o deputado federal Fernando Lyra (MDB-PE) tornou-se ministro da Justiça do presidente José Sarney.

Lyra era um célebre frasista. À falta de notícias, os jornalistas, em Brasília, se contentavam com suas tiradas inteligentes e mordazes. Uma delas custou-lhe o ministério.

Na noite de 29 de julho de 1985, num ato público que reuniu, no Rio, mais de 700 artistas que lotaram o Teatro Casa Grande, Lyra declarou a morte da censura no país.

Ocorre que no meio do seu discurso ele elogiou Sarney. E não encontrou melhor maneira do que defini-lo como “vanguarda do atraso”. Sarney apoiou a ditadura e rompeu com ela.

Vingança é um prato que se serve frio. Sete meses mais tarde, pressionado pela Igreja, Sarney proibiu a exibição do filme “Je Vous Salue, Marie”, do cineasta franco-suíço Jean-Luc Godard.

E quem anunciou a volta da censura? Lyra, o ministro da Justiça que semanas depois perderia o emprego. Sarney trocou-o pelo enfatuado gaúcho de chapéu Paulo Brossard.

“Vanguarda do atraso…” É, cai bem em Tarcísio, o candidato de Bolsonaro para enfrentar Lula daqui a dois anos.

Quais assuntos você deseja receber?

Ícone de sino para notificações

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

Ícone de ajustes do navegador

Mais opções no Google Chrome

2.

Ícone de configurações

Configurações

3.

Configurações do site

4.

Ícone de sino para notificações

Notificações

5.

Ícone de alternância ligado para notificações

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comBlog do Noblat

Você quer ficar por dentro da coluna Blog do Noblat e receber notificações em tempo real?