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Sonhar com anistia não fará mal a Bolsonaro, só o frustrará depois

Ele tem pressa com medo de ser julgado por outros crimes

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Presidente Jair Bolsonaro discursa durante evento com as Forças Armadas - metrópoles
1 de 1 Presidente Jair Bolsonaro discursa durante evento com as Forças Armadas - metrópoles - Foto: Arthur Menescal/Especial Metrópoles

Bolsonaro quer ser anistiado o mais rapidamente possível, como demonstrou ao desembarcar sem aviso no Congresso para conversar com líderes de partidos que ainda dizem apoiá-lo.

A Lusitana roda, o mundo gira, e Bolsonaro acha que o galo canta todos os dias para acordá-lo, e não porque o sol nasceu. Não se dá conta de que em breve o sol irá se pôr exclusivamente para ele.

A história do Brasil está pontilhada de anistias. Na segunda metade dos anos 1950, o então presidente Juscelino Kubitschek anistiou todos os militares que se rebelaram contra seu governo.

Quando instalaram a ditadura em 1964, os militares puniram com extremo rigor seus colegas de farda que se opuseram ao golpe em nome da legalidade. Que legalidade, coisa nenhuma!

Afinal, justificavam os golpistas, fora preciso suspender a democracia para poder salvá-la da ameaça comunista. E o processo de resgate da democracia se arrastaria por tenebrosos 21 anos.

A anistia ampla, geral e irrestrita cobrada pela oposição ao regime, não foi tão ampla, nem geral, nem irrestrita. E serviu acima de tudo para perdoar os crimes de sangue cometidos pelos militares.

Inimigos da ditadura foram presos, torturados, mortos, desapareceram, banidos do Brasil ou obrigados a se exilar. Os que sobreviveram voltaram com a anistia de 1979.

Os militares que torturaram, mataram, soltaram bombas e tentaram impedir o retorno da democracia, esses nada pagaram pelo que fizeram. Seus crimes sequer foram investigados.

A anistia que Bolsonaro defende é para os condenados e presos pela tentativa de golpe do 8 de janeiro, e para ele por tabela. Alega que não houve tentativa de golpe, apenas uma bagunça.

Os inconformados com a derrota do seu Messias, e no exercício do legítimo direito à liberdade de expressão, bateram à porta de quarteis a clamar por um golpe que invalidasse a eleição.

Clamar por um golpe não é crime, entende Bolsonaro. Invadir a Praça dos Três Poderes e depredar prédios públicos, até poderia ser classificado de crime, mas jamais contra a democracia.

Quanto a ele próprio, nem no Brasil estava. Assistiu tudo de longe e surpreso em um condomínio de Orlando, nos Estados Unidos. Se o tivessem consultado, certamente não autorizaria a bagunça.

A pressa de Bolsonaro com a anistia tem uma razão de ser – e não é a dor que sente por ver tantos correligionários presos, coitadinhos. Bolsonaro quer evitar ser julgado por novos crimes.

Inelegível até 2030, ele já está. Mas aproxima-se a hora de ser denunciado pelos crimes de roubo de joias e de atentado contra o Estado Democrático de Direito. Aí é que o bicho vai pegar.

Se o Congresso aprovasse a anistia que ele requer, Bolsonaro não seria denunciado e muito menos julgado, é o que ele imagina. E recuperaria os direitos políticos para candidatar-se em 2026.

Sonhar sai barato. E sonhar à falta de outra coisa para fazer, e com tudo pago pelo partido que lhe oferece abrigo e sustenta parte de sua família, não fará mal algum a Bolsonaro e ao seu rebanho.

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