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Sociedade que Bolsonaro viu em comoção está nas ruas sambando

A luta de classes explodiu na Sapucaí, mas durou pouco

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AgNews/ Wallace Barbosa
Desfile da Mangueira no Carnaval
1 de 1 Desfile da Mangueira no Carnaval - Foto: AgNews/ Wallace Barbosa

Bolsonaro alegou seis razões para perdoar os crimes cometidos contra o Estado de Direito por seu aliado Daniel Silveira (PTB-RJ), deputado condenado pelo Supremo Tribunal Federal a 8 anos e 9 meses de prisão e tornado inelegível.

Uma das razões que amparam o decreto assinado por ele fala em comoção da sociedade. Transcrevo:

“Considerando que a sociedade encontra-se em legítima comoção, em vista da condenação de parlamentar resguardado pela inviolabilidade de opinião deferida pela Constituição, que somente fez uso de sua liberdade de expressão;”

Como Bolsonaro não domina bem o português, tampouco alguns dos que escrevem o que ele deve ler, fica difícil adivinhar exatamente o que ele quis dizer ao falar em “comoção”.

Nos dicionários, “comoção” é ação ou efeito de comover; emoção contundente e imprevista; motim, revolta ou agitação popular. Não há sinais de que a condenação de Silveira tenha deixado os brasileiros em tal estado.

Sociedade em “legítima comoção” é esta que no momento ocupa as ruas de grandes e pequenas cidades do país. Mas ela não pula e grita em favor de Silveira, nem celebra sua absolvição por Bolsonaro.

Um flagrante da luta de classes à moda brasileira antecedeu, na Sapucaí, a entrada da primeira escola de samba. Foi a noite inaugural dos desfiles do Grupo Especial do carnaval pós-pandemia no Rio de Janeiro.

Mal o presidente da Liga de Escolas de Samba anunciou o nome das escolas a desfilar, e a banda da Polícia Militar tocou o Hino Nacional, a polarização política deu o ar de sua graça na avenida.

Nas arquibancadas, a multidão começou a cantar: “Olê, olê, olê, olá, Lu-lá, Lu-lá”. Não faltou “Fora, Bolsonaro”. Nos camarotes, os foliões reagiram com gritos de “Ei, Lula, vai tomar no cú”. A batalha terminou ao se ouvir o toque dos tambores.

O Supremo Tribunal Federal ainda não decidiu como se comportar em mais uma batalha que trava contra um presidente carente de votos para se reeleger e aparentemente disposto a tudo.

Os ministros se indagam: devemos ter pressa em julgar as ações judiciais impetradas pelos partidos que querem invalidar o decreto de perdão a Silveira, ou devemos deixar antes as coisas esfriarem?

Que coisas? A euforia dos seguidores mais radicais de Bolsonaro com a “atitude de macho” que ele adotou? A discreta alegria dos fardados e dos que já despiram a farda, planejam o próximo golpe e se ocupam em jogar dominó?

Com o decreto que afrontou a mais alta Corte de Justiça do país, Bolsonaro mirou o público dos camarotes que acreditou em suas promessas de combater a corrupção, governar com técnicos e privatizar empresas estatais gigantes.

Não fez nada disso, fez o contrário. Mas isso não importa para o pessoal dos camarotes. Vale Bolsonaro de novo se for para evitar Lula e a sua malta. Brasil acima de tudo!

O pessoal das arquibancadas não foi afetado pelo decreto. Tem mais com o que se preocupar. Para quê meter-se em briga de brancos? A eleição ainda está distante. (Mangueira, teu cenário é uma beleza!)

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