Salvo se o acaso fizer uma surpresa, Dilma vencerá
Texto originalmente publicado em 3 de outubro de 2010 e hoje republicado para marcar os 20 anos do blog
atualizado
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Cansei de ouvir quando era criança e morava no Recife, e a apuração de votos se arrastava por dias ou até semanas:
– Espere a chegada da Zona da Mata para ver só…
Pernambuco tinha Recife, Zona da Mata, Agreste e Sertão. As usinas de açúcar concentravam-se na Zona da Mata, a região socialmente mais desigual. O açúcar era a grande riqueza do Estado.
Quando faltavam votos à esquerda no Recife para que vencesse eleições, dizia-se que ela seria salva pelos votos da Zona da Mata. Era o voto anti-usineiro. E nada havia de mais reacionário ou conservador do que um usineiro.
Em 1998, quando Fernando Henrique Cardoso se reelegeu presidente, escapando por poucos votos de ser obrigado a disputar o segundo turno contra Lula, ouvi com frequência em Brasília:
– E se chover nos grotões do Nordeste onde o governo é mais forte?
Deve chover muito hoje em boa parte do país. Talvez a abstenção cresça nas áreas mais remotas. De resto, se uma fatia expressiva dos eleitores esquecer que só poderá votar munida de um documento oficial com foto? Olha o segundo turno aí, gente!
Bobagem!
Quer segundo turno sem depender do imponderável que jamais decidiu eleição por aqui? Torça para que o número de votos de Dilma seja menor do que a soma dos votos dos seus adversários.
Na noite da última sexta-feira, prevalecia um “nervosismo tranqüilo” no coração da campanha de Dilma. Pesquisas aplicadas em tempo real mostravam uma leve redução da vantagem dela.
Dilma não perdia votos. Marina Silva ganhava votos de indecisos. E Serra crescia devagar em São Paulo, onde Dilma chegou a ter 15 pontos percentuais de votos a mais do que ele. Os 15 pontos reduziram-se a três.
Um mimo para os que tentam explicar resultados eleitorais com base na geografia: em 2002, Serra derrotou Lula em São Paulo no primeiro turno. E perdeu ali no segundo. Em 2006, Alckmin venceu Lula em São Paulo no primeiro e no segundo turnos.
Atribua-se a São Paulo, pois, o mau desempenho de Serra na eleição deste ano. Certo? Errado. Acabou-se o mimo.
Dilma, hoje, vencerá a eleição nos 27 Estados. E se tiver que confirmar sua vitória no segundo turno, deverá fazê-lo sem maior dificuldade.
Boa parte do voto em Marina é daqueles que não querem ver Lula e Dilma arrotando grandeza desde já. Querem que eles sofram pelo menos um pouquinho. Em um eventual segundo turno entre Dilma e Serra, votarão em Dilma.
Esqueçam a lenda de que segundo turno é uma nova eleição. Não é – salvo se o acaso fizer uma surpresa. Não costuma fazer.