Quem é inocente não cala sobre crimes que não cometeu
Bolsonaro agradece o silêncio do tenente-coronel Mauro Cid
atualizado
Compartilhar notícia
Não entendo. O tenente-coronel Mauro Cid jura que é inocente. Como ajudante de ordem de Bolsonaro, nada fez de errado. Por que então calou-se ao não depor por 8 horas à CPI do Golpe?
Sequer concordou em responder sobre sua idade, pergunta que lhe fez a deputada Jandira Feghali (PC do B-RJ). Mauro Cid nasceu em 17 de maio de 1979. Tem, portanto, 44 anos.
A lei garante o direito ao silêncio para que o interrogado não produza provas contra si. Bem, mas como um inocente poderia produzir provas contra si? Ou Mauro Cid não é inocente?
Bolsonaro agradece o silêncio de Mauro Cid. Imagine se ele tivesse contado só uma parte do muito que esconde – sobre os golpes planejados que se frustraram, as joias, o cartão de vacinação.
O Exército autorizou Mauro Cid a se apresentar fardado à CPI. Assim, ele imporia respeito e ganharia credibilidade. Políticos têm medo de farda. O distinto público já respeitou mais gente fardada.
A propósito: e o sargento da Aeronáutica que em 2019 transportou 37 quilos de cocaína no avião presidencial? Ele foi autorizado a vestir farda quando ouvido pela justiça da Espanha?
O sargento não é filho de militar. O pai de Mauro Cid é um general, amigo de Bolsonaro e contemporâneo dele na Academia Militar de Agulhas Negras. Bolsonaro empregou-o na Apex, em Miami.
A família militar jamais abandona um dos seus. Confortavelmente instalado na área privativa do Exército, Mauro Cid deve ser o preso mais cortejado do país: 73 visitas em dois meses e pouco.
A cúpula militar entende que as acusações contra Mauro Cid são as que mais degradam a imagem das Forças Armadas. Então, o menos ruim seria que ele vestisse farda para depor.
Ledo engano. Se ele tivesse respondido pelo menos a algumas perguntas e se mostrasse simpático, a CPI poderia ter-se dado como satisfeita. Não foi o que aconteceu.
A CPI quebrou o sigilo das contas telefônicas e bancárias de Mauro Cid. O Exército teme que os dados vazem e revelem novidades que o Supremo Tribunal Federal, por enquanto, guarda em segredo.
Há coisas de arrepiar.