A mais devastadora crítica jamais feita a Bolsonaro não tem como autor um inimigo dele, pelo contrário, mas um dos seus mais ardorosos defensores – o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Nos piores momentos de Bolsonaro, Malafaia sempre esteve ao lado dele.

O desabafo do pastor foi ouvido e gravado por Mônica Bergamo, colunista da Folha de S. Paulo. Seguem os trechos mais contundentes:

* Um político é reconhecido por seus posicionamentos. Qual foi a sinalização que o Bolsonaro passou? “Eu não sou confiável em meus apoios políticos”. Quem vai fazer aliança com um cara que não é confiável? Em São Paulo, ele ficou em cima do muro. No Paraná, tendo candidato [indicado pelo PL] a vice [Eduardo Pimentel, que concorre a prefeito], declarou para a mulher lá [Cristina Graeml, que concorria contra Pimentel] “pode usar meu nome”.

* Bolsonaro foi covarde, omisso. Para ficar bem sabe com quem? Com os seguidores. Que político é esse, meu Deus? [Bolsonaro] não é criança. Sabe o que ele fez [na eleição de SP]? Jogou para os dois lados. Eu desafio: entra nas redes de Bolsonaro e dos filhos dele. Não tem uma palavra sobre a eleição de São Paulo. É como se ela não existisse. Que porcaria de líder é esse?

* Eu falei para o Bolsonaro: “Se esse cara [Pablo Marçal] fosse alguma coisa na direita, eu respeitava. Mas ele só tem ganância e ambição. Vai dividir a direita, vai levar metade do voto evangélico. E você está assistindo a tudo isso calado?”. Marçal é uma farsa. Ele não é perigoso para a direita. Ele é perigoso para a nação. […] Eu apoio o Bolsonaro. Mas eu já disse: sou aliado, e não alienado.

* O líder pode ouvir [seus seguidores]. Mas não pode basear suas decisões na opinião da maioria ou da minoria em redes sociais. Ele tem que basear suas decisões em princípios. E três coisas formam um princípio: crenças, valores e caráter. [Marçal] é um psicopata, mentiroso e que usa técnicas de manipulação. Tem uma inteligência e um carisma fora da curva, que é a marca dos psicopatas.

* [Uma vez, Bolsonaro] estava chorando depressivo [na casa de praia que tem] em Mambucaba [em Angra dos Reis, no Rio], perto de ser preso. Liguei para ele e falei: “Vai ficar chorando aí? Vamos para a rua, cara!”. Ele chorou por cinco minutos comigo no telefone antes de abrir a boca, no visor [chamada de vídeo] como estou agora com você. Estava depressivo porque as pessoas em volta dele foram todas presas [em fevereiro]. Estava angustiado.

* Se Bolsonaro seguir inelegível, entro de cabeça para apoiar Tarcísio [de Freitas, governador de São Paulo] à Presidência. Ele mostrou que é um cara de caráter.