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Quando quer, Lula sabe ser mau como um pica-pau

Sérgio Moro, a vítima da vez

atualizado

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Ricardo Stuckert
Foto colorida do presidente Lula na 4ª Conferência Nacional de Juventude - Metrópoles
1 de 1 Foto colorida do presidente Lula na 4ª Conferência Nacional de Juventude - Metrópoles - Foto: Ricardo Stuckert

Só pode ter sido maldade de Lula com Sérgio Moro, seu inimigo número um para o resto da vida, o que ele disse a propósito da nomeação para o Supremo Tribunal Federal do ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino. Aparentemente em estado de graça, Lula declarou:

“Pela primeira vez, conseguimos colocar na Suprema Corte desse país um ministro comunista”.

Dino costuma dizer que é comunista “graças a Deus”. Na verdade, é católico, e a Igreja Católica celebrou sua nomeação. Seu primeiro partido foi o PT, de 1987 a 1994. O segundo, o PC do B, de 2006 a 2021, quando se elegeu deputado e governador do Maranhão duas vezes.

No ano passado, pelo PSB, elegeu-se senador. Não é o primeiro ministro comunista que Lula conseguiu pôr no Supremo. O primeiro foi Eros Grau, comunista assumido, de carteirinha, preso e torturado pela ditadura militar em 1972 e nomeado por Lula em 2004.

Lula é tão comunista quanto Dino – ou seja, nada. O que ele queria era aumentar a fúria dos bolsonaristas contra Moro, que deu um abraço carinhoso em Dino durante a sabatina do ministro na Comissão de Constituição e Justiça do Senado, cochichou ao seu ouvido e, suspeita-se, votou a seu favor.

Os seguidores do ex-presidente tornado inelegível pela Justiça não perdoam Moro pelo que ele fez e passaram a atacá-lo duramente nas redes sociais, a ponto de Moro, por falta de quem o defendesse, passar recibo por escrito:

“Não me surpreende o ataque dos que desejam ocupar o cargo que legitimamente conquistei com o apoio do povo paranaense. Aos meus eleitores e apoiadores, digo: não divulgar o voto na indicação de autoridades é uma prerrogativa do parlamentar.”

De fato, é. Mas o momento que Moro atravessa é o pior desde que despiu a toga em 2019 para servir a Bolsonaro como ministro da Justiça; pior do que o momento de sua demissão para escapar de ser demitido; pior do que o momento de sua reconciliação temporária com Bolsonaro no ano passado.

Moro acreditou que poderia candidatar-se a presidente em 2022 para derrotar Bolsonaro que lhe prometera uma vaga no Supremo; e acreditou que ajudando Bolsonaro a derrotar Lula herdaria o voto dos bolsonaristas para concorrer em 2026. Agora, vê-se emparedado. Esquerda e direita o rejeitam.

O PT de Lula e o PL de Bolsonaro juntaram-se para tomar-lhe o mandato por abuso de poder econômico nas eleições do ano passado. O processo avançou ontem à noite com o parecer favorável à cassação enviado pelo Ministério Público ao Tribunal Regional Eleitoral do Paraná.

Assinado pelos procuradores Marcelo Godoy e Eloisa Helena Machado, o parecer pede que o tribunal reconheça a “prática de abuso do poder econômico” e que decrete a inelegibilidade de Moro e do seu primeiro suplente Luís Felipe Cunha. Diz o parecer a certa altura:

“A lisura e a legitimidade do pleito foram inegavelmente comprometidas pelo emprego excessivo de recursos financeiros no período que antecedeu o de campanha eleitoral, porquanto aplicou-se monta que, por todos os parâmetros objetivos que se possam adotar, excedem em muito os limites do razoável”.

No Paraná, o limite de gastos para candidatos ao cargo de senador em 2022 foi de R$ 4.447.201,54. O total de “gastos oficiais” contratados pela campanha dos investigados e declarado à Justiça foi de R$ 5,1 milhões, sem considerar as despesas da pré-campanha, o que desequilibrou a disputa.

O caso deverá ser julgado no final de janeiro, mas para que Moro perca o cargo é preciso que o Tribunal Superior Eleitoral casse o seu mandato. Com os afagos feitos em Dino, Moro teria pensado que melhoraria sua situação junto aos juízes de Brasília? Se pensou, mais adiante verá que não.

Nos tribunais superiores, o clima contra ele é pesado, assim como no Congresso. Lula diz e repete que não sossegará enquanto Moro não for punido por tê-lo condenado injustamente. A condenação foi anulada pelo Supremo, que censurou Moro por sua parcialidade.

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