Pressinto que Bolsonaro é corrupto, mas é só um pressentimento
Presidente põe a cara no fogo por ex-ministro e pela segunda vez sai queimado
atualizado
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O senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) acertou em cheio ao comentar a gravação em que o ex-ministro da Educação, Milton Ribeiro, conta que recebeu um telefonema de Bolsonaro dizendo que ele poderia ser alvo de uma operação de busca e apreensão:
“Tá cheirando a sacanagem, além de crime, claro”.
Naturalmente, Flávio não se referia ao que fez seu pai ao vazar uma operação sigilosa da Polícia Federal, dando tempo assim para que Ribeiro destruísse provas e evidências que poderiam incriminá-lo em casos de corrupção no Ministério da Educação.
Flávio referiu-se à divulgação da conversa por telefone entre Ribeiro e sua filha, onde o ex-ministro diz que Bolsonaro o avisou sobre o que a Polícia Federal planejava fazer. A divulgação foi que cheirou a sacanagem na opinião de Flávio, além de crime.
No fim da tarde da quarta-feira 16 de março de 2016, o juiz Sérgio Moro, supremo comandante da Operação Lava-Jato, liberou a gravação de uma conversa telefônica entre a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Lula que ocorrera horas antes.
O telefone de Lula estava grampeado por ordem de Moro. A conversa se deu depois do fim do prazo de grampeamento estipulado pelo próprio juiz. A gravação, pois, fora um ato ilegal. Mesmo assim, Moro decidiu torná-la pública.
Dilma: “Alô.”
Lula: “Alô.”
Dilma: “Lula, deixa eu te falar uma coisa.”
Lula: “Fala, querida. Ahn?”
Dilma: “Seguinte, eu tô mandando o ‘Bessias’ junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o termo de posse, tá?!”
Lula: “Uhum. Tá bom, tá bom.”
Dilma: “Só isso, você espera aí que ele tá indo aí.”
Lula: “Tá bom, eu tô aqui, fico aguardando.”
À época, o PT temia que Moro prendesse Lula a qualquer momento e Dilma convidou-o para ministro da Casa Civil. Como ministro, Lula teria direito a foro especial, só podendo ser processado e preso pelo Supremo Tribunal Federal.
A divulgação da conversa abortou a nomeação de Lula. Em julho de 2017, Moro condenou Lula a 9 anos e 6 meses de prisão. Em abril de 2018, Moro mandou prendê-lo. Por ilegal, o Supremo anulou a condenação em abril do ano passado.
“Não vou deixar foderem minha família toda e meus amigos”, disse Bolsonaro na famosa reunião ministerial de 22 de abril de 2o20. Ministro da Justiça, Moro pediu demissão e disse que Bolsonaro tentara intervir na Polícia Federal.
Desde então, Bolsonaro controla a Polícia Federal, que é um órgão de Estado, não de governo. Ribeiro deixou o governo depois que se soube que dois pastores evangélicos, recomendados a ele por Bolsonaro, cobravam propinas para liberar verbas da Educação.
“Eu ponho toda a minha cara no fogo por ele”, disse Bolsonaro, que forçou Ribeiro a demitir-se. Queimou-a daquela vez, e de novo ontem quando a Polícia Federal, ao dar-lhe o troco, divulgou uma conversa entre Ribeiro e sua filha.
A conversa ocorreu no dia 9 de junho, portanto 13 dias antes da operação da Polícia Federal que prendeu o ex-ministro e mais quatro pessoas investigadas, entre elas os dois pastores. Bolsonaro voava para os Estados Unidos, e com ele o ministro da Justiça.
Ribeiro: Hoje o presidente me ligou. Ele tá com pressentimento novamente de que eles podem querer atingi-lo através de mim. É que eu tenho mandado versículos pra ele né.
Filha: Ele quer que você pare de mandar mensagem?
Ribeiro: Não, o que é isso. Ele acha que vão fazer uma busca e apreensão em casa… Bom, isso pode acontecer né, se houver indícios.
Filha: Não, pai, essa voz não é definitiva. Eu não sei se ele tem alguma informação. Eu tô te ligando no celular normal viu pai.
Ribeiro: — Ah é? Ah então depois a gente fala então, tá.
Presidente não tem “pressentimento”, tem informação. A sacanagem de Bolsonaro constitui crime de responsabilidade punível com impeachment. Não haverá impeachment, nem Bolsonaro será denunciado pela Procuradoria-Geral da República.
Caberá aos eleitores puni-lo em outubro.