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Macaco velho não pula em galho seco. Sem currículo à altura do cargo, Anderson Torres, delegado de polícia, pulou ao aceitar ser ministro da Justiça de Bolsonaro, e caiu do galho tão rapidamente quanto o escalou. Aqui se faz, aqui se paga.
Se ontem, cento e poucos dias depois de preso por envolvimento nos atos golpistas de 8 de janeiro, foi solto e mandado para casa com a perna algemada a uma tornozeleira eletrônica, não quer dizer que o pior já passou para ele. O pior ainda está por vir.
O homem é senhor do que pensa, escravo do que diz. O ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, está forrado de provas e de evidências da culpa de Torres nos crimes que lhe atribuem. Por ora, não precisava mais mantê-lo preso.
Há conversas de Torres tramando contra o tribunal. (Pela boca morre o peixe.) Entre os assuntos tratados por ele está a prisão de um magistrado que deveria ser “deixado em local incerto e não sabido” após o golpe. O magistrado era o próprio Moraes.
Não se cutuca onça com vara curta, mas Torres estava tão certo de que Bolsonaro iria se reeleger com sua ajuda que cutucou Moraes. Vingança é um prato que se come frio, mas às vezes Moraes prefere comê-lo ainda quente ou morno.
Saciado, libertou Torres para que ele seja um dos primeiros a depor na CPI mista do golpe que poderá ser instalada na próxima semana. Os bolsonaristas estão profundamente arrependidos de tê-la bancado. Esqueceram que as consequências vêm depois.
A cobra vai fumar para Torres, o tenente-coronel Mauro Cid, o coronel Élcio Franco, o ex-major e golpista confesso Ailton Barros, “segundo irmão” de Bolsonaro, e ao fim e ao cabo para o ex-capitão que jura por todos os santos ser inocente.
Mentira tem perna curta, só mentirosos compulsivos não sabem disso, além dos que se acham inimputáveis. A tentativa fracassada e amadora de golpe a céu aberto, com data anunciada nas redes sociais, equivaleu a um suicídio coletivo.
De nada, agora, vale chorar sobre o leito derramado. O que não tem remédio, remediado está.