Ponha-se no lugar de Bolsonaro para poder entendê-lo melhor
Atenção! Conteúdo com ironia, mas baseado em fatos
atualizado
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Empatia é a “capacidade de você sentir o que outra pessoa sente caso estivesse na mesma situação vivenciada por ela, ou seja: procurar experimentar, de forma objetiva e racional, o que sente o outro, a fim de tentar compreender seus sentimentos e emoções”.
O déficit de empatia em Bolsonaro é gigantesco. Se ele tem alguma, é por seus filhos, sua mulher e alguns amigos. Mas não somos obrigados a padecer do mesmo mal se desejamos entendê-lo, seja para diminuir ou aumentar nossa aversão a ele.
Desde que estourou o escândalo da roubalheira no Ministério da Educação, lá se vão poucos dias, Bolsonaro vem sendo pressionado por políticos, por evangélicos, pela mídia e por adversários, para que demita o ministro Milton Ribeiro, pastor da Igreja Presbiteriana.
Ribeiro é acusado de ter aberto o cofre do ministério para saciar a fome de dois pastores picaretas que pediam propina em troca de dinheiro público. Uma dezena de prefeitos contou que era assim e que o esquema, também a serviço do Centro, funcionava há anos.
À época do mensalão do PT, Lula disse uma vez que o presidente da República não pode saber de tudo que acontece no seu governo; assim como um pai não sabe de tudo que seus filhos fazem ou deixam de fazer. Bolsonaro também já disse algo parecido.
Mas, no caso da bandalheira descoberta no Ministério da Educação, foi ele que recomendou a Ribeiro que desse um tratamento especial aos assaltantes – particularmente a um deles, o pastor Gilmar. Há uma gravação em que Ribeiro reconhece isso.
Não quer dizer que Bolsonaro tenha autorizado os pastores a furtarem; vai ver que nunca passou pela cabeça dele que fossem larápios, embora que, para saber disso, antes poderia ter acionado os serviços de inteligência do governo, e não o fez. Um descuido.
Ribeiro tem prestado bons serviços a Bolsonaro, fazendo tudo o que ele lhe pede, orientando-o na escolha de reitores para evitar a nomeação de possíveis esquerdistas. Como Olavo de Carvalho morreu, Ribeiro virou uma referência ideológica para Bolsonaro.
De resto, o ministro caiu nas graças de Michelle, a primeira-dama, tão ou mais religiosa do que ele. Nunca se viu Ribeiro saltando no mesmo lugar, dando gritos e falando em línguas estranhas, mas Michelle saltou em público pelo menos uma vez.
Os filhos de Bolsonaro gostam muito de Ribeiro – principalmente Eduardo, deputado federal, o Zero Três, o mais ideológico deles, e dependente eleitoral dos recursos do Fundo Nacional da Educação, cujo orçamento para este ano é de mais de R$ 40 bilhões.
Deram-se conta da situação delicada, e ao mesmo tempo explosiva, que enfrenta o presidente da República? O que cada um de nós faria se estivesse no seu lugar? E a seis meses da renovação, ou não, do seu mandato? E tendo que administrar outros problemas?
Está certo que Bolsonaro exagerou ao dizer que põe sua cara para queimar pela inocência de Ribeiro. Precipitou-se, digamos. E se Ribeiro não for tão inocente como Bolsonaro, de bom coração, pensa? Alguém terá de pagar pelo mal feito, e não será Bolsonaro.
Esperemos que Ribeiro compreenda o que se passa e peça afastamento do cargo. Por ora, o que ele tem pedido é ajuda para ficar. Procurou o ministro terrivelmente evangélico André Mendonça, do Supremo, e os presidentes da Câmara e do Senado.
Os três estão com pena dele, mas, em nome dos superiores interesses do país, acham que Ribeiro deveria voltar para casa.