Pintou um clima contra Bolsonaro para o debate com Lula, hoje
O depoente nega. O depoente sempre nega
atualizado
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Lula disse no Recife:
“Ele pode gastar o que quiser [do Orçamento Secreto], mas está dado. O destino do Bolsonaro está traçado: ele vai ter que ter humildade e no dia 1º de janeiro colocar a faixa no meu pescoço”.
O maior risco que Lula corre no debate na Band é o de cair no jogo de Bolsonaro. Perderá, se o fizer. Bolsonaro é moleque de rua. Lula nunca foi, embora, menino, ajudasse a mãe fazendo bicos.
Bolsonaro pode ir para o tudo ou nada. Tem um paredão de 8 milhões de votos para escalar se quiser vencer. O paredão de Lula é de menos de 2 milhões, segundo os resultados do primeiro turno.
Faltam 15 dias para as eleições. Quer dizer: 15 dias se passaram, a julgar pelas pesquisas, sem que Lula caísse e Bolsonaro avançasse. O apoio de governadores a Bolsonaro não alterou o quadro.
Nos recortes das pesquisas, Bolsonaro cresce no Sudeste e parte do Sul, e Lula amplia sua vantagem no Nordeste e se aproxima dele em parte do Norte. Minas está onde sempre esteve.
E será lá, por tradição, que se decidirá a eleição. Desde o fim da ditadura militar de 64, nenhum presidente se elegeu perdendo em Minas. Aécio Neves ganhou em São Paulo, mas perdeu em Minas.
Bolsonaro nega que admita ser treinado para participar de debates. O que significa ser treinado para debates? Responder a perguntas embaraçosas e polir as respostas pouco a pouco.
Ele pode até não se submeter a isso, mas ouve sugestões dos seus conselheiros. Nem sempre as acolhe. E com frequência, na hora H, não lembra o que deveria dizer. Então, lê anotações.
Lula é mais aberto às sugestões, tem boa memória e experiência em debates. Diz-se que perdeu a calma quando se viu diante do farsante de nome “padre Kelmon”. Perdeu e ganhou.
Pesquisas constataram depois do debate que a irritação de Lula com Kelmon, boca de aluguel de Bolsonaro, foi bem aceita pelo distinto público. Ele não poderia ouvir desaforos sem reagir.
Não ouvirá desaforos e ataques de Bolsonaro sem reagir, mas deverá respondê-los sem perder as estribeiras. O deboche, nessas ocasiões, é uma arma eficiente contra insultos.
Os dois poderão caminhar no palco e se aproximarem das câmeras. Foi o que fizeram recentemente Fernando Haddad (PT) e Tarcísio de Freitas (PL), candidatos ao governo paulista.
Haddad saiu-me muito melhor do que seu adversário. Talvez por isso, Tarcísio passou a fugir de sabatinas e debates. Vale-se da desculpa de que Haddad quer nacionalizar a eleição, e ele não.
Se Lula, de cara boa, aproximar-se de Bolsonaro para lhe dizer qualquer coisa, seu oponente será capaz de empurrá-lo ou de fazer algo pior. Para Bolsonaro, seria um desastre.
Se Lula, irônico, alfinetar Bolsonaro repetidas vezes, poderá embaraçá-lo. Bolsonaro é esperto, mas tosco e ríspido, indelicado com assessores, grosseiro quando o confrontam.
Nesta reta final de campanha, está pintando um clima – e ele não é favorável a Bolsonaro, obrigado a investir em anúncios nas redes sociais para dizer que não é pedófilo. Onde já se viu!