Pegaram Bolsonaro, ladrão de joias. Falta pegar Bolsonaro, o golpista
A recompra das joias configura obstrução de justiça, motivo suficiente para prisão preventiva
atualizado
Compartilhar notícia
Nunca na história, o Brasil foi governado por uma organização criminosa. Os militares são uma organização que durante a ditadura de 64 torturaram e mataram. Mas, sempre em nome da defesa da democracia, ameaçada pelo comunismo.
A organização criminosa a que me refiro é a que subiu a rampa do Palácio do Planalto na companhia de um ex-capitão expulso do Exército depois de planejar atentados terroristas a quartéis. Achava que ganhava pouco e queria mais. Foi até garimpeiro.
O dono da caneta mais cheia de tinta do Brasil foi ele durante os últimos quatro anos. O Exército foi dele, e assim se comportou. Quem mandava no governo era ele – e aos que tinham juízo, só restava perfilar-se, bater continência e obedecer. Selva!
Porém, não há nada escondido que não venha a ser descoberto, ou oculto que não venha a ser conhecido (Lucas 12:2). E a Polícia Federal descobriu que Bolsonaro apropriou-se de joias e itens de luxo que faziam parte do patrimônio do Estado brasileiro.
Bolsonaro nega que o tenha feito. Mas sua palavra pouco vale diante do volume de provas, indícios e testemunhos colhidos pela Polícia Federal desde que recuperou a sua autonomia. Quem tanto mentiu na Presidência não merece crédito uma vez fora dela.
Até ontem, 16 militares da reserva e da ativa que ocuparam postos no governo Bolsonaro estavam na mira de inquéritos da Justiça. O número subiu para 18 depois que a Polícia Federal bateu à porta de mais um general e um segundo-tenente do Exército.
O segundo-tenente: Osmar Crivelatti, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, e que ainda integra sua equipe de assessores. O general: Mauro Cesar Lourena Cid, pai do tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordem de Bolsonaro, preso no início de maio.
Admitamos: Bolsonaro é um prodígio. Conseguiu transformar um Almirante de Esquadra da Marinha em muambeiro, e um general do Exército em camelô. Bento Albuquerque, ex-ministro das Minas e Energia, foi quem trouxe joias para Bolsonaro.
Na verdade, joias e itens de luxo presenteados pelo governo da Arábia Saudita ao Estado brasileiro. As que Bolsonaro embolsou entraram ilegalmente no país no fundo da mala do almirante muambeiro. Michelle não teve sorte: as dela, a Receita reteve.
Pelo menos oito vezes, Bolsonaro tentou reaver as joias de Michelle, sem sucesso. Em 30 de dezembro, com as dele, fugiu para os Estados Unidos. E os Mauro, o pai, general, e o filho, tenente-coronel, deram um jeito de vendê-las.
Ocorre que o Tribunal de Contas da União ordenou que elas fossem devolvidas. E os Mauro, com a ajuda do advogado da família Bolsonaro, Frederich Wassef, aquele que escondeu Fabrício Queiroz, o da rachadinha, tiveram que recomprá-las.
Foi uma trabalheira louca, encarada como uma operação de guerra pelo general-camelô, amigo de longa data de Bolsonaro, e empregado por ele como chefe em Miami do escritório de um órgão brasileiro especializado em compras e vendas, vejam só.
A Polícia Federal pediu ao Supremo Tribunal Federal a quebra do sigilo bancário e fiscal de Bolsonaro. Ele será chamado a depor pela quinta vez. Michele irá depor pela primeira vez. O que dirão? Que são inocentes, não sabiam de nada, não participaram de nada.
É a técnica de jogar a culpa para os escalões inferiores. Até que os inferiores, à beira do patíbulo, comecem a culpar os escalões superiores. A gangue das joias está aí exposta, e mais ficará nos próximos dias quando novos fatos serão revelados.
A gangue do golpe requer mais exposição. Quem diria que Bolsonaro poderia ser preso não como golpista, mas como ladrão de joias do Estado brasileiro. A recompra das joias e itens de luxo configura obstrução de justiça, motivo suficiente para ser preso.