Pazuello diz que Bolsonaro é presidente de duas palavras, ou mais
Em depoimento à CPI da Covid-19, o general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde, fala em “frase para internet”
atualizado
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A crer no que disse à CPI da Covid-19 o general Eduardo Pazello, ex-ministro da Saúde, o presidente Bolsonaro é homem de duas palavras. Uma, a oficial, que fala para consumo interno do governo; é a que vale de fato. A outra, que fala para uso nas redes sociais; esta, nem sempre vale, ou na maioria das vezes, vale nada.
Deu um exemplo. Para uso nas redes, e por extensão na mídia em geral, Bolsonaro, no segundo semestre do ano passado, disse que não compraria de jeito nenhum a Coronavac, vacina de origem chinesa, que o Instituto Butantan, em São Paulo, começava a fabricar. Para ele, Pazuello, Bolsonaro nada disse a respeito.
Quer dizer: não passou de encenação o que o país assistiu à época. Num dia, depois de ter conversado com o presidente, o general anunciou a compra da Coronavac. No dia seguinte, Bolsonaro desautorizou o anúncio. Ao ser visitado por ele, Pazuello comentou: manda quem pode, obedece quem tem juízo.
Foi o momento de maior desgaste público do ministro, que teria se revelado um fraco, um banana, um reles subordinado do presidente, capaz de fazer tudo para manter-se no cargo. Mesmo assim, Pazuello engoliu a seco, nada disse, e tocou em frente. Dá para achar que o general diz a verdade, somente a verdade à CPI?
E que tal um presidente que governa com duas palavras, ou até mais, uma vez que muitas vezes já deu o dito pelo não dito, seja para consumo interno, seja para uso nas redes e na mídia? Em qual tipo de fala o país deve acreditar? Em qual agentes políticos, econômicos e sociais devem acreditar e tomar suas decisões?
Embora o bom humor não pareça ser o seu forte, Pazuello debocha da inteligência alheia. Não tem a menor graça.