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Pazuello distrai-se e, em meio a tantas mentiras, diz uma verdade

Preocupado em blindar Bolsonaro, o ex-ministro da Saúde acaba ligando-o a uma das decisões mais controvertidas da gestão da pandemia

atualizado

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Pazuello na CPI da Covid
1 de 1 Pazuello na CPI da Covid - Foto: Rafaela Felicciano/Metrópoles

O presidente Jair Bolsonaro tem passe livre para mentir e dizer o que lhe venha à cabeça, inclusive frases de internet. Mentiu quando era soldado ao negar que planejara atentados à bomba em quartéis – foi punido, mas não aprendeu a dizer a verdade. Mentiu durante quase 30 anos como deputado, e segue mentindo.

De tanto mentir, conseguiu fazer-se acreditar por uma parcela expressiva dos brasileiros, e é dela que sobrevive até hoje. É uma espécie de moto-contínuo, ou se preferirem, de caixa de lenços de papel – você puxa uma mentira e logo aparece outra, e outra, e outra mais, sem que o estoque jamais acabe.

Mentira nada tem a ver com fingimento, polêmica, controvérsia, desacerto, engano. Mentira é uma armação ou negação que se faz sabendo-se de antemão que é falsa, o oposto à verdade. Se o presidente mente compulsivamente, deliberadamente, ora, libera seus subordinados para que façam o mesmo.

É o que acontece, sem surpresa, no segundo dia consecutivo de depoimento à CPI da Covid-19 do general Eduardo Pazuello, ex-ministro da Saúde do governo Bolsonaro, o terceiro de um total de quatro ministros até aqui. Natural que em meio a tantas mentiras, Pazuello distraia-se e revele uma verdade.

Foi o que fez, há pouco. Empenhado em proteger o presidente e em proteger-se, o general atribuiu a ele a decisão de não aprovar um pedido de intervenção na saúde pública do Amazonas durante a crise da falta de oxigênio, em janeiro. Bolsonaro estava presente na reunião ministerial que negou a providência.

É a primeira vez que Pazuello liga Bolsonaro a uma das medidas mais controvertidas e questionadas na gestão da crise sanitária. A intervenção federal foi pedida pelo senador Eduardo Braga (MDB-AM) em 15 de janeiro. À época, o sistema de saúde do Amazonas entrou em colapso por falta de oxigênio medicinal.

“Na reunião ministerial, o governador [Wilson Lima, PSC) foi chamado, apresentou sua posição [contrária a de Braga] e houve a decisão de não intervir”, contou Pazuello. Lima é aliado de Bolsonaro. Homenageou-o recentemente com o título de cidadão do Amazonas. Mais de 30 pessoas morreram por falta de oxigênio.

Manaus foi usada pelo governo federal como uma espécie de laboratório para testar o consumo em massa da cloroquina contra o vírus. O mundo desprezara há muito o uso da droga por ser ineficaz. Uma força-tarefa do Ministério da Saúde desembarcou ali, em janeiro, com mais de 35 mil comprimidos de cloroquina.

Desde antes do desembarque que as secretarias Estadual e municipal de saúde orientavam os amazonenses a se tratarem com a droga para só depois, se necessário, procurarem os hospitais. Pazuello sonegou tal informação à CPI. De resto, bem treinado, sonegou tudo o que o embaraça e ao governo federal.

A CPI está numa encruzilhada. Não preparou-se o suficiente para ouvir o general, apontando suas mentiras, falsas verdades e omissões. A continuar assim, irá pelo ralo.

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