Para Ciro Gomes, a não se eleger presidente, sempre haverá Paris
Com o passar do tempo, ainda é a mesma velha história, um combate por amor e glória
atualizado
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“O egocentrismo político sempre foi e continua sendo a característica marcante de…”. De quem mesmo? De Lula, diz Ciro Gomes. Não, de Ciro, dizem adeptos de Lula. A bem dizer, da esmagadora maioria dos políticos no planeta Terra.
Imagine um ramo de atividade em que você, para ser bem-sucedido, é obrigado todo tempo a repetir como um mantra: “Vote em mim, porque sou o melhor”. De tanto fazê-lo, acaba acreditando que de fato é o melhor, o messias, o número um.
Modestos, humildes e tímidos não costumam dar-se bem na política. Nem mesmo, digamos, o falso humilde, que não liga para o que veste ou calça, fala pouco e, quando fala, não tenta chamar a atenção de ninguém. Sem chamar atenção, a derrota é certa.
Político é encantado pela própria voz e não tem vergonha de mendigar, mentir, roubar ideias alheias, passar a perna em quem quer que seja para continuar no batente e amealhar mais poderes para si e a sua tribo. Esconde até dinheiro entre as nádegas.
Portanto, Ciro falar que o egocentrismo é uma marca de Lula seria como Lula falar que o egocentrismo é uma marca de Ciro, ou de Bolsonaro, ou de João Doria calça apertada, ou de Sérgio Moro, que se comporta como um simples juiz do interior, mas que só finge.
Ninguém mais do que Bolsonaro ficou feliz com os ataques de Ciro a Lula e à ex-presidente Dilma. Vai que foi por isso que Bolsonaro revelou que chora no banheiro e, no entanto, Michelle o considera um machão. Se chorou, foi ontem e de pura felicidade.
Ciro havia se preparado para enfrentar sua quarta eleição presidencial como o candidato da centro-esquerda, capaz de credenciar-se como o anti-Bolsonaro por excelência. Não contava com a anulação das condenações de Lula, quem contava?
E, de repente, Lula voltou, e ele, Ciro, vê-se empacado na casa dos 10% das intenções de voto. Esse filme já passou nas eleições de 2018 e Ciro fez uma ponta como figurante. Da cadeia, Lula transferiu para Haddad grande parte do seu patrimônio eleitoral.
À época, por exemplo, o PSB estava pronto para apoiar Ciro, o PCdoB a caminho de apoiar, e, no entanto, de tanto que Lula fez e prometeu, os dois partidos renovaram a aliança antiga com o PT. Ano que vem, outra vez, é o que farão, para desgosto de Ciro.
Como a via da esquerda está obstruída para ele, Ciro, em desespero, quer tentar a via da direita. Nada de candidato da terceira via, papel aparentemente reservado para Doria. Candidato da segunda via mesmo, no lugar de Bolsonaro.
É por isso que Bolsonaro chora no banheiro. Ganhou mais um companheiro para bater em Lula, e dificilmente perderá sua vaga no segundo turno. Para a direita, ante o risco de ter que engolir Lula presidente, quem é mais confiável? Ciro ou Bolsonaro?
Pois é. Coisas da vida. Mas, para Ciro Gomes, sempre haverá Paris.