Ou Bolsonaro está resignado com a derrota ou aposta no golpe
O que ele possa dizer contra Lula já foi dito em todas as eleições passadas desde a primeira em 1989
atualizado
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No curto prazo, Bolsonaro só tem uma meta: não ficar de fora do primeiro turno para se derrotado no segundo, tumultuar o país até seu último dia de desgoverno. Se sua pretensão fosse de fato se reeleger, seu comportamento a essa altura seria outro.
Algo como 30% dos eleitores o apoiam quase incondicionalmente. Mesmo assim, com medo de perder uma parte deles, Bolsonaro só os enxerga. É para eles, tão somente para eles, que Bolsonaro joga. Com eles, e apenas eles, será amplamente derrotado mais tarde.
Embora arrisque-se a ver Lula eleito no primeiro turno, aposta que poderá fazê-lo sangrar quando tiver início a campanha oficial em agosto. Imagina que a munição que acumula contra Lula levará os dois para o segundo turno, e aí seria uma nova eleição.
Não leva em conta que a grande massa de eleitores já conhece os defeitos reais de Lula e os falsos que lhe são imputados. Novos defeitos inventados naturalmente serão assacados contra ele, mas haverá revide com o mesmo grau de intensidade.
Em 1989, no segundo turno da primeira eleição presidencial pelo voto desde o fim da ditadura, Lula foi acusado por Fernando Collor de ter uma filha fora do casamento e de ter tentado convencer a mãe a abortá-la. Foi o lance mais sujo de uma eleição até aqui.
Descobriu-se a tempo que a mãe da menina recebera dinheiro da campanha de Collor para fazer a denúncia mentirosa sobre a sugestão de aborto. Lula perdeu a eleição, mas não foi por isso. Continuou cuidando da filha como fazia antes.
Em 2018, no pior momento da sua vida, preso em Curitiba, Lula liderou as pesquisas até o início de setembro. Impedido de ser candidato, indicou Fernando Haddad. Com menos de 30 dias de campanha, Haddad credenciou-se a disputar o segundo turno.
Se Bolsonaro pensa derrotar Lula em um eventual segundo turno, deveria preocupar-se em angariar votos entre aqueles que hoje se recusam a votar nele (mais de 50% do total de eleitores) e entre os que dizem não ter decidido em quem votar (30%).
Não age assim, porém. Então, de duas, uma. Ou está resignado com a derrota que se anuncia e apenas cumpre tabela, ou aposta no golpe que não lhe sai da cabeça. A segunda hipótese é a mais provável. O que não quer dizer que ele será bem-sucedido.