Os três delegados que tiram o sono do governador do Rio de Janeiro
Quem mandou matar Marielle Franco, e por quê?
atualizado
Compartilhar notícia
Não convide para a mesma mesa o governador bolsonarista Cláudio de Castro (PL), do Rio, e o delegado Leandro Almada da Costa, superintendente da Polícia Federal no Rio.
Tampouco convide para a mesma mesa o delegado Vitor Almada da Costa, superintendente no Rio da Polícia Rodoviária Federal, e irmão de Leandro. Castro quer distância deles.
Também quer distância do número 2 de Leandro Almada, o delegado Jaime Cândido. Castro fez tudo ao seu alcance para impedir que os três fossem nomeados para os cargos que ocupam.
Falou com Lula duas vezes, explicando porque era contra a indicação de Leandro Almada. Reuniu-se em Brasília mais de uma vez com membros do Ministério da Justiça, e com igual propósito.
Perdeu a parada mesmo contando com o apoio de uma ala do PT do Rio que o vê como um bolsonarista de ocasião, pragmático o bastante para no futuro tornar-se um aliado do partido.
Foi Leandro Almada, em 2019, que conduziu a investigação que indicou a existência de uma organização criminosa que trabalhava para impedir a elucidação da morte de Marielle Franco.
Foi ele, no ano passado, que começou a investigar desvio de dinheiro em contratos da Saúde na Prefeitura de Duque de Caxias, à época em que o prefeito era o ex-deputado Washington Reis.
Castro havia escolhido Reis para ser seu vice, e em junho de 2022 chegou a anunciar, exultante, nas redes sociais:
“Agora é oficial: meu amigo Washington Reis aceitou o convite e será meu companheiro nesta jornada de reconstrução do Rio”.
Em setembro, ainda saiu em defesa de Reis, dizendo:
“Ele tem 10 mandatos, passou por 3 Executivos, e não tem nenhuma condenação criminal por corrupção. Confio muito no Washington Reis e, se tiver condições, será meu vice com certeza”.
Trocou de vice porque Reis perdeu as condições de ser. Mas uma vez reeleito, Castro nomeou Reis para Secretário de Transportes. Não gostou de ouvir Leandro afirmar no seu discurso de posse:
“A Superintendência da Polícia Federal do Rio de Janeiro continuará priorizando o combate ao desvio de recursos públicos, identificando e responsabilizando agentes políticos que enganam o eleitor e usam do poder para o enriquecimento ilícito”.
Castro e o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar (PL), são investigados por abuso de poder econômico e político no esquema da Fundação Centro Estadual de Estatísticas, Pesquisas e Formação de Servidores Públicos do Rio de Janeiro
Ali foram criados 27 mil cargos cujos salários eram pagos em dinheiro vivo, em uma “folha de pagamento secreta”. O caso é investigado no Ministério Público estadual e no federal.
O governador também é alvo, no Superior Tribunal de Justiça, de duas delações premiadas. Castro é acusado de ter recebido R$ 100 mil em propina quando ainda era vice-governador.
O delegado Jaime Cândido participou de diversas investigações do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado do Ministério Público do Rio contra policiais civis.
Melhor do que ninguém, Castro sabe, portanto, onde lhe apertam os calos, e por isso reagiu. Há cinco anos, o então ministro da Justiça, Raul Jungmann, antecipou:
“Há uma grande articulação envolvendo agentes públicos, milicianos e políticos, em um esquema muito poderoso que não teria interesse na elucidação do caso Marielle. Até porque estariam envolvidos neste processo. Se não tanto na qualidade daqueles que executaram, na qualidade de mandantes”.