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Conta José Múcio Monteiro, 76 anos, ministro da Defesa, que seu medo ao acordar todos os dias é o de não sentir dor. Porque, se isso acontecer, pode ser sinal de que morreu.
Ele é o mais leve dos ministros de Lula e faz de tal condição a melhor maneira de enfrentar problemas. Para seus interlocutores, o difícil é saber quando ele fala sério ou apenas faz graça.
Outro dia, um dos seus amigos, que despacha no Palácio do Planalto, perguntou-lhe se havia muitos bolsonaristas no Ministério da Defesa. Múcio respondeu: “Eu não sei”.
O amigo insistiu: “Como não sabe?” Múcio disse: “Porque não pergunto”. E o amigo: “Mas por que não pergunta?”. Múcio: “Porque eu não quero saber. Não me interessa”.
Lula o admira, mas não só por isso, também porque Múcio entrega a maioria das coisas que ele pede. A principal: uma certa paz, na medida do que é possível, na relação com os militares.
No rescaldo da tentativa de golpe em 8 de janeiro de 2023, Lula telefonou para Múcio insatisfeito com a atuação do general Marco Antonio Freire Gomes, então comandante do Exército.
Horas antes de receber o telefonema, Múcio demitira o general. Recentemente, Lula telefonou para reclamar do comandante da Marinha, que divulgou um vídeo que o irritara.
O vídeo também irritou Múcio, que o desconhecia. Acontece que, àquela altura, Múcio já advertira o comandante, e o vídeo acabou retirado do ar. Lula e Múcio costumam tocar afinados.
A dobradinha Múcio-Tomás Paiva, comandante do Exército, é responsável até aqui pela travessia do período mais turbulento já vivido pelas Forças Armadas desde o fim da ditadura de 1964.
Por suposto, não está na conta de Lula mexer com nenhum deles quando decidir mudar seu time de auxiliares; como não está na conta de Múcio e de Paiva pedirem dispensa dos seus cargos.
Das vezes que, em conversas informais, Múcio manifestou o desejo de ir para casa cuidar dos netos, Lula respondeu que ele ainda é muito jovem para bater em retirada e mudou de assunto.
A notícia de que Múcio, esta semana, ao visitar Lula em São Paulo, voltou a falar em ir para casa, é mais um sinal emitido pelo presidente de que uma reforma ministerial está à vista.
Mas não é necessariamente um sinal de que Múcio será substituído. Dadas as circunstâncias, Múcio e Fernando Haddad, da Fazenda, são ministros imexíveis.