Os Bolsonaro gargalham de Alcolumbre que quis ser polícia e deu-se mal
Senador é acusado por esquema de rachadinha no seu gabinete
atualizado
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Os Bolsonaro respiram melhor depois que a revista VEJA publicou que Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, mantinha um esquema de rachadinha no seu gabinete. Eles, portanto, não foram os únicos.
Justiça se lhes faça: nunca foram os únicos nem mesmo os primeiros. Rachadinha é coisa antiga no Congresso, Assembleias Legislativas e Câmaras Municipais. Funcionários fantasmas devolvem a maior parte dos salários que ganham.
Segundo a revista, Alcolumbre embolsou pelo menos 2 milhões de reais entre janeiro de 2016 e março deste ano. De 2019 a 2021, ele presidiu o Senado, eleito com o apoio de Bolsonaro. Brigou com ele por não ter lhe dado tudo o que prometera.
Seis moradoras do Distrito Federal foram contratadas como assessoras de Alcolumbre, mas nunca deram um dia de trabalho no Senado. Seus salários variavam entre 4 mil e 14 mil reais. Ficavam com 10% do que recebiam e devolviam o resto.
Foi o que cada uma delas contou e documentos obtidos pela revista comprovam. Alcolumbre, naturalmente, nega:
“Nunca, em hipótese alguma, em tempo algum, tratei, procurei, sugeri ou me envolvi nos fatos mencionados. Tomarei as providências necessárias para que as autoridades competentes investiguem os fatos”.
As seis mulheres alegam que aceitaram a proposta do senador porque enfrentavam dificuldades financeiras e estavam desempregadas. Uma delas, de nome Marina, conta que mesmo assim foi demitida sem aviso prévio quando engravidou.
O convite para que ela atuasse no esquema foi feito pelo próprio Alcolumbre:
“O senador me disse assim: ‘Eu te ajudo e você me ajuda’. Estava desempregada. Meu salário era mais de 14 mil, mas topei receber apenas 1 350 reais. A única orientação era para que eu não dissesse para ninguém que tinha sido contratada no Senado”.
Outras duas, Larissa e Lilian, foram demitidas durante a gravidez. Então entraram com uma ação na Justiça contra o senador, que agora se diz vítima de uma “orquestração por uma questão política e institucional” em andamento na comissão que preside.
Alcolumbre engavetou a indicação feita em julho último por Bolsonaro de André Mendonça para ministro do Supremo Tribunal Federal. Se dependesse dele, o próximo ministro seria Augusto Aras, atual Procurador-Geral da República.
Duas perguntas teimam em não calar: Alcolumbre continuará resistindo às pressões do governo para que ponha em votação o nome de Mendonça? E os demais senadores tomarão alguma providência para investigar Alcolumbre e puni-lo?
Há uma terceira pergunta: o que dirá sobre isso o senador Flávio Bolsonaro (Patriota-RJ) que, quando deputado estadual no Rio, beneficiou-se da rachadinha administrada à época por Fabrício Queiroz, chefe do seu gabinete?
Lúcio Flávio Villar Lírio, precursor dos assaltos a banco no Brasil, o criminoso mais procurado nos anos 1970, cunhou uma frase que se tornaria famosa:
“Bandido é bandido, polícia é polícia”.
Alcolumbre quis brincar de ser polícia e deu-se mal. Os Bolsonaro gargalham dele.