Olavo deixa órfãos Bolsonaro, seus devotos e a direita sem vergonha
A última batalha entre o autoproclamado filósofo e o presidente será travada nas eleições de outubro próximo
atualizado
Compartilhar notícia
É no que deu bater palmas para que maluco dançasse. Ex-simpatizante do Partido Comunista Brasileiro, o autoproclamado filósofo Olavo de Carvalho derivou mais tarde para a astrologia, o esoterismo, e morreu aos 74 anos como guru da direita brasileira que antes temia ser chamada pelo nome.
Décadas a fio, ela preferiu identificar-se como centro, tal era seu complexo de inferioridade, como se apenas à esquerda coubesse o papel de defensora de melhores condições de vida para os pobres e de mudanças estruturais. A direita também precisa que os pobres comam para que o capitalismo se expanda.
A esquerda jamais governou o Brasil desde que a democracia fez sua estreia por aqui. Pensou que poderia governar com a chegada ao poder de João Goulart, depois que Jânio Quadros renunciou à presidência da República. Não contava, porém, com o golpe militar de 64. Finalmente, deu pinta de que chegara com Lula e Dilma.
No caso de Lula, foi ele que cavalgou a esquerda, não o contrário. Dilma causou mais assombro à direita, e por isso acabou derrubada. A Lava Jato surgiu como a melhor oportunidade para que a direita se livrasse por muito tempo do risco de o PT voltar. É pela direita que se diz de centro que Lula pretende voltar.
Abriu-se então o espaço para que emergisse Olavo, um charlatão bom de bico, autor de alguns poucos livros de sucesso, e que fora morar nos Estados Unidos. Durante certo período, ele foi colunista de alguns dos mais importantes jornais e revistas do Brasil, ganhando fama de excêntrico, mas divertido.
Tinha pouco de conservador. Era um reacionário. Entenda-se por isso: retrógrado, antidemocrático, antiliberal. Saudado como o ideólogo da nova direita, logo se tornou um extremista, valendo-se de xingamentos, mentiras e ataques pessoais para disseminar as mais esdrúxulas teses e teorias conspiratórias.
E o fez em busca de protagonismo e também para ganhar dinheiro com os cursos on-line que oferecia, sintonizado com o que havia de pior na direita americana. Jornalista de ocasião, ele pregou a violência contra jornalistas que não compartilhavam suas ideias. Escreveu que a Terra era plana e que a Covid-19 não matava.
Deu sorte de estar no melhor da sua forma conspiratória quando viu ascenderem no Brasil o ex-capitão Bolsonaro e seus filhos – ele, um sindicalista militar sem rumo e prestes a se aposentar como deputado federal do baixo clero; os filhos, de futuro incerto, dependentes do pai para seguirem sua carreira política.
Sobre a mesa em que Bolsonaro gravou o primeiro discurso após a vitória havia um livro de Olavo: “O mínimo que você precisa saber para não ser um idiota”. O idiota jamais leu aquele livro, sequer o de memórias do coronel torturador Brilhante Ulstra, seu herói. Mas, juntou-se à vontade de comer de um a do outro de servir.
Bolsonaro carecia de direção. Olavo, de alguém poderoso que ele pilotasse. O enlace durou menos do que Olavo imaginava. Mais esperto do que ele, Bolsonaro trocou sua companhia pela do Centrão para escapar do impeachment, governar como refém, e tentar se reeleger. Olavo morreu rompido com Bolsonaro.
A última batalha a ser travada entre os dois ficou para a posteridade. É quando se saberá quem irá sobreviver – o olavismo ou o bolsonarismo. Palpite: Olavo derrotará Bolsonaro.